segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sexualidade no entardecer da vida


Vanessa Silva *
Pois é caros leitores, já vai sendo tempo de desmistificar certos tabus e trazer à baila assuntos que deveriam ser encarados com naturalidade. Estou a falar da sexualidade na terceira idade. É certo que a sexualidade nem sempre é vivida da mesma forma ao longo da vida, mas a verdade é que esta nunca deixa de existir como muitas pessoas pensam, apenas a forma é expressada é que é alterada à medida que envelhecemos. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a sexualidade é «uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual, ela influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental». Como se pode ler na definição, sexualidade não é o mesmo que sexo, é muito mais que isso e tem inúmeras formas de se fazer notar.

Com o avançar da idade, o desejo sexual não desaparece, apenas a menor vitalidade da pessoa a impede de ser mais sexualmente activa, o que por outro lado faz com que o indivíduo procure a satisfação com outras formas de sexualidade, como os afectos, as carícias, os beijos, as massagens, que são algumas alternativas que trarão de volta o erotismo que poderá ter desaparecido devido a inúmeras dificuldades, como problemas de saúde, viuvez, etc. No fundo, as razões pelas quais as pessoas mais velhas deixam de fazer sexo, são as mesmas pelas quais deixam de andar de bicicleta: dificuldades físicas, medo de se exporem ao ridículo e claro está, falta da bicicleta!

São muitos os factores que influenciam a sexualidade, em todas as idades, mas na terceira idade os principais são os físicos, os psicológicos (os entraves que a própria pessoa impõe à sua sexualidade) e os sociais (os entraves que as outras pessoas impõem à sexualidade das pessoas com mais idade). Em relação aos físicos, podemos destacar a menopausa que ocorre nas senhoras e o equivalente nos senhores, a andropausa. Estes dois acontecimentos são marcantes na vida das pessoas e trazem repercussões, sobretudo negativas, na vida sexual. A menopausa traz consigo o fim do ciclo menstrual, a diminuição da lubrificação, o prolapso uterino, o estreitamento da vagina entre outras alterações. Com a andropausa a voz fica mais fina, as mamas podem-se tornar maiores, os testículos encolhem e perdem firmeza, podem surgir problemas de próstata, as erecções ocorrem menos vezes, entre outras alterações.

É importante que a vergonha não se instale e que procurem ajuda médica, pois há medidas que podem atenuar estas dificuldades. Para além destas condicionantes, muitas vezes há outras patologias, como a diabetes, a hipertensão, etc., que influenciam negativamente a sexualidade e ainda há medicação responsável pela redução do desejo e da capacidade sexual. Nos psicológicos entra a viuvez, factor preponderante nestas questões, pois muitas vezes as pessoas com mais idade acham que já não têm idade para o amor, temem parecer ridículos, a própria educação talvez conservadora, também tem muita importância, pois muitas pessoas acham que só se podem “dar” a uma pessoa na vida e se essa pessoa faleceu, com ela foi também o amor e toda a sexualidade. Os factores sociais, são aqueles pelos quais somos todos responsáveis e cabem a nós deixar que existam. Esta marginalização e preconceito tem de acabar, temos de começar a ver os idosos também como seres sexuais e não promover medidas que os descriminem.

As instituições, como os lares, são muitas das vezes os principais promotores da discriminação da sexualidade dos idosos. Em Portugal a lei não permite que os lares tenham cama de casal, o que é altamente frustrante para o casal que acaba de ser institucionalizado. Ponha-se na pele destas pessoas: já não basta ter de sair da sua própria casa e enfrentar todo o momento traumatizante que muitas das vezes a institucionalização traz, como ainda tem de dormir numa cama ou muitas vezes num quarto separado daquele/a que foi desde sempre o/a seu/sua companheiro/o. Vários estudos indicam que a atitude das pessoas que trabalham em lares e mesmo doa familiares perante a sexualidade dos idosos é de desconforto, escárnio e inibição.

Preocupante também, é saber que em Portugal 841 pessoas, com mais de 65 anos, foram diagnosticadas com SIDA, até 2009, representando 2,3% do total de diagnosticados de VIH/SIDA e muitas chegam mesmo a falecer sem nunca ser diagnosticado. Nas pessoas acima dos 50 anos tem se verificado uma tendência crescente dos casos de SIDA. Apontam-se como responsáveis o facto dos idosos procurarem prostitutas, não utilizarem preservativo e depois infectarem as esposas. Outra causa pode ser também o facto das campanhas de prevenção serem dirigidas principalmente a jovens, ficando por vezes a falsa ideia de que nos idosos não surgem estas doenças.

Caros leitores, este é um tema para reflectirem, temos de deixar de ser tão quadrados como somos em relação ao tema da sexualidade, o tempo da avozinha já lá vai (e ela também tinha uma sexualidade certamente) cabe a nós agir com naturalidade perante estas questões e não ter atitudes discriminatórias perante a sexualidade no entardecer da vida. E termino com a definição de sexualidade de uma senhora das suas setenta e cinco primaveras: “sexualidade é manter viva a chama do amor, é continuar a ter relações tanto sexuais, como fazer carícias, é dar miminhos que tanto fazem bem à saúde física quanto à nossa moral”.

Licenciada em Enfermagem
Vanessa Silva *http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=123286

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