"Eu amo a minha vagina!" Com esta e outras palavras de ordem, cerca de 300 mulheres britânicas participam amanhã numa marcha em Londres, contra a depilação dos pelos púbicos femininos e as cirurgias para rejuvenescimento vaginal.
Maria Luiza Rolim (www.expresso.pt)
23:10 Sexta feira, 9 de dezembro de 2011
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O boom de cirurgias plásticas vaginais e a depilação dos pelos púbicos femininos, no Reino Unido, está a preocupar especialistas e feministas britânicos. Este sábado, pelo menos três centenas de mulheres participam de uma marcha sui generis em Harley Street, Londres, contra "the pornification of our private parts".
A convocação para o protesto está a ser feita, através do Facebook, pela The Muffia, organização feminista que reúne também artistas do espetáculo. A razão da manifestação é o aumento crescente, quer nas clínicas do Serviço Nacional de Saúde quer no setor privado, das vaginoplastias por razões estéticas.
As manifestantes são contra todos os tipos de cirurgia vaginal, quer a labioplastia genital (remoção de pele dos lábios vaginais) quer a cirurgia para o rejuvenescimento da vagina, também denominada "designer vagina".
A marcha agendada para amanhã pela The Muffia é também um protesto contra a "obsessão (das mulheres) de remover os pelos púbicos".
Cirurgia plástica vaginal em raparigas com idade escolar
No passado mês de agosto, especialistas britânicos alertaram para a tenra idade das raparigas britânicas interessadas em submeter-se a cirurgias plásticas da vagina, e refere que o procedimento é feito indiscriminada e precocemente, na maior parte dos casos sem qualquer necessidade.
Um estudo publicado na Revista Internacional de Obstetrícia e Ginecologia, citado pela BBC, refere que o número de cirurgias da vagina realizadas pelo serviço nacional de saúde (SNS) aumentou cinco vezes em dez anos. Muitas das pacientes são raparigas em idade escolar.
A pesquisa foi a primeira a analisar concretamente as dimensões dos lábios vaginais de raparigas e mulheres interessadas em passar por este tipo de cirurgia. A média de idade dos 33 casos analisados - pacientes que requisitaram o procedimento e receberam a indicação de clínicos gerais para fazer a cirurgia pelo serviço público - era de 23 anos. Oito das raparigas ainda estavam em idade escolar.
De acordo com a investigação, quase todas as pacientes tinham os pequenos lábios de tamanho normal. Três delas quiseram fazer a operação para corrigir uma assimetria significativa.
O estudo revelou, também, as razões que fizeram com que essas mulheres optassem pela cirurgia, e em que idade isso ocorreu. Sessenta por cento responderam que queriam diminuir o tamanho dos pequenos lábios e melhorar a sua aparência, enquanto as restantes apontaram desconforto, melhoria da autoestima e desejo de melhorar as relações sexuais.
Entre os motivos citados estavam "comentários de um parceiro sexual" e "programas televisivos sobre cirurgia plástica". Para 30% das mulheres estudadas, a insatisfação com a aparência surgiu entre os 11 e os 15 anos de idade.
Entre as que tiveram o seu pedido recusado, 40% disseram continuar interessadas em passar pelo procedimento, e algumas aceitaram a indicação para tratamento psicológico. Apenas uma foi encaminhada para tratamento por doença mental.
"É surpreendente. Uma delas tinha apenas 11 anos. O desenvolvimento da genitália externa continua durante a adolescência, sendo que os pequenos lábios podem desenvolver-se assimetricamente no início e ficarem mais simétricos com o passar do tempo", disse a investigadora da University College London, Sarah Creighton.
Números crescentes
Os investigadores advertem que a prática frequente deste tipo de cirurgia no âmbito do SNS "é apenas a ponta do iceberg". E que na rede privada, a cirurgia plástica vaginal é um setor que passa por um boom" no Reino Unido.
De acordo com o estudo, em 2008, o número de cirurgias plásticas vaginais aumentou 70% comparado com o ano anterior: 1118 labioplastias (669 em 2007 e 404 em 2006). Apenas no SNS.
Já o Harley Medical Group registou 5000 casos de "ginecologia estética" no ano passado, 65% para redução dos pequenos lábios.
Os especialistas alertam para os riscos, advertem que a cirurgia para reduzir os pequenos lábios é irreversível, e que os efeitos a longo prazo não são completamente conhecidos.
A Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos pede aos clínicos gerais do Reino Unido para serem mais rigorosos na hora de decidir quem precisa deste tipo de cirurgia.
Depilação e cirurgia podem estar relacionadas
O número de adolescentes britânicas preocupadas em eliminar os pelos púbicos é também crescente. Em parte, porque a depilação (completa) é agora moda. E esta prática deixa à vista as partes genitais, levando a que se preocupem também com a sua aparência.
Segundo afirma Jane Martinson, no seu "The Women's Blog" publicado no jornal "The Guardain", alguns especialistas sugerem que o recurso a cirurgias plásticas da vagina é uma disfunção.
Outros vêem estas práticas como uma extensão da "pornificação" da sociedade em Inglaterra (também muito criticada por escritoras feministas). Ou seja, como hoje é aceitável que os jovens vejam pornografia explícita (onde a padronização da aparência genital é encorajada e a maior parte das atrizes não apresenta pelos púbicos), muitos acabam por adotar estes padrões como "norma".
Jane Martinson, uma das raparigas que pediu para ser operada justificou-se afirmando ter consultado um exemplar da revista "Playboy" para ver como eram as raparigas das fotografias. "Algumas pareciam ter os pequenos lábios muito reduzidos, ou mesmo não os ter", disse.
Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/londres-marcha-contra-a-depilacao-e-cirurgia-estetica-vagina
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