segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

«Hoje não me apetece!»


O sexo sofre com a crise? A resposta é sim. E eles são muitas vezes os mais afectados.

1-1-2012
“Ao fim de seis anos de casamento, tenho dificuldade em compreender o meu desinteresse sexual. Não consigo aceitar esta situação.” João (nome fictício) tem 38 anos e é engenheiro de profissão. Aceitou dar a entrevista porque sabe que há muitos como ele que nem em casa têm coragem de falar. João quer dar o exemplo para que possam “dar a volta”. Como ainda continua a ser comum, o engenheiro foi sempre o pilar financeiro da família. Um dia recebe a pior notícia: a empresa para a qual trabalha vai abrir falência e todos perdem o emprego. João também. Desde esse dia tem “a cabeça a mil” e os dias são passados a pensar como poderá dar a volta a uma situação que lhe custa aceitar. “Sinto a falta do dinheiro como um veneno que me consome”, conta. O mau humor é constante e explode com muita facilidade. Os filhos sofrem, a mulher também. Como se o tecto tivesse caído e o mundo desabado. Tem complexos de culpa por não ter conseguido manter o trabalho e sente que existem momentos em que é difícil controlar a ansiedade e a frustração.

“Mas o que mais me custa é o meu desinteresse sexual. A minha mulher já me tem feito comentários desagradáveis, não consegue compreender o meu afastamento, culpabiliza-me, culpabilizando-se também.” João sente que está numa situação limite, não só financeira mas pessoal. “Já senti que a minha mulher tem por vezes desconfiança em relação a mim, o que me deixa magoado e é bastante insuportável”, admite.

O que João conta é omitido pela maioria dos homens na mesma situação. A vergonha é a principal razão, o homem fica desesperado e mergulha na crise, que passa de financeira a pessoal. Perde a vontade de passear com a mulher, de conversar e até de ter relações sexuais.

“A componente psicológica e a nossa disponibilidade para o sexo são muito importantes para o despertar ou o activar do nosso desejo sexual. É normal que, perante um cenário de preocupações, as pessoas tenham menos capacidade para pensarem em sexo e sentirem motivação para o prazer. O dinheiro, ou melhor, a falta dele, sempre foi reconhecido como um agente negativo nos relacionamentos, uma fonte de preocupação e de tensão. Não é por isso de estranhar que o humor das pessoas esteja mais fragilizado e que o sexo sofra as consequências da angústia e do medo”, explica a sexóloga Vânia Beliz.

Perante a crise económica, as pessoas ficam mais concentradas em manter o que conquistaram do que em gerir a crise, o que só potencia insegurança e causa desequilíbrio emocional.

Agora imagine que chega à cama, começa a provocar o seu companheiro e ele não dá sinal de vida. “Imagine que o estimula e ele faz como se nada estivesse a acontecer, afasta-a e diz-lhe, ‘hoje não, estou com uma dor de cabeça terrível’”, questiona Vânia Beliz. “Já não dormia a noite toda.” É que enquanto eles estão habituados à nossa falta de apetite, nós ficamos para morrer quando eles simplesmente dão meia volta e não se mostram disponíveis. “Esta nossa dificuldade em compreender o ‘não’ masculino faz com que os culpemos e se inicie uma série de desconfianças que só vêm agravar o problema.” Perante as falhas, muitas mulheres caem num ciclo de acusações que só agravam o ambiente. “Temos de compreender que os nossos parceiros também têm dias ‘não’”, explica a sexóloga.

João referiu várias vezes “que ama a companheira”, como se quisesse justificar que o afastamento nada tem a ver com o que sente por ela. Foi por ela que marcou uma consulta de Sexologia para tentar compreender o que lhe está a acontecer. Desmistificado o tabu do desejo masculino, João diz que saiu mais seguro de que também os homens podem ver o seu desejo perturbado. “Saí com um sorriso e prometi voltar com a mulher que tanto gostava que me tivesse acompanhado à terapia.” Na próxima sessão, a mulher estará presente.

Enfrentar o problema é a única forma de sair dele. “O mais importante é que o casal se una e se mostre disponível para o outro”, explica Vânia Beliz. Falhas todos temos e não convém dramatizar quando uma nos acontece. Mas, “se notar um maior afastamento, promova a proximidade e evite dar azo às desculpas dele para fugir ao assunto”.

E se a situação financeira do casal está, de facto, comprometida, é importante que se unam e escolham um tipo de intervenção que minimize as despesas, sugere a terapeuta. Esqueça os planos que não pode concretizar. “Cozinhem juntos em casa, façam as refeições longe dos noticiários que só aumentam a ansiedade, distraiam-se ao serão vendo um filme ou dando um passeio perto de casa e, na hora de deitar, antecipem o momento com um banho quente partilhado. Já na cama, aproveitem para ouvir aquelas músicas de que tanto gostam!”, sugere a especialista. Tudo longe dos mesmos temas de sempre – crise, empréstimos, dívida. Afinal, os problemas ultrapassam-se com carinho e compreensão.


QUANDO ELES DIZEM NÃO

* Os homens, ao contrário do que muitas mulheres (e até homens) pensam, não estão sempre automaticamente prontos para o sexo

* É natural que possam ter dificuldades e vejam o desempenho afectado em momentos de grandes preocupações

* “A maior parte dos homens sente na pele o estereótipo de ser o cabeça de casal e, por isso, qualquer factor que afecte este papel, muitas vezes inconsciente, coloca o homem numa situação de desânimo”, explica a sexóloga Vânia Beliz

* “É cada vez mais frequente os homens revelarem-se preocupados com as consequências que os problemas laborais e financeiros trazem para a sua performance sexual”

* “O medo de perder o emprego, a perda de regalias e a falta de poder financeiro assombram o seu desejo e criam-lhes um vazio até agora desconhecido”

PROCURE UM TERAPEUTA

Os assuntos da crise financeira global e os efeitos, como o desemprego e a recessão, começaram a ser levados para o divã das sessões individuais e daí para a terapia de casal. Neste momento, o importante é que o diálogo e o companheirismo entre o casal sejam reforçados, pois, afinal de contas, como tudo na vida, há sempre um começo, um meio e um fim. Ou seja, nada é eterno, as crises também acabam…



10 ESTRATÉGIAS PARA REFORÇAR O AMOR

1. Ajuste os gastos à nova realidade para não terminar afundada em dívidas

2. Seja forte e não se deixe abalar por sensações, como frustração e ansiedade

3. Arquitecte um plano B. Pense em alternativas para reforçar o dinheiro da casa com alguma actividade que saiba fazer. Por exemplo, não há nada de errado em vender os bolinhos que você faz como ninguém

4. Procure manter o equilíbrio emocional. A sensação de fracasso impede que se sinta apta a disputar uma nova vaga de trabalho

5. Reserve uma parte do dinheiro para actividades de lazer, como um chá com as amigas uma vez por semana

6. Dê um tempo a si mesma para se restabelecer emocionalmente. Inquietar-se só torna a busca por um emprego ainda mais traumatizante

7. Apegue-se a resultados positivos conquistados anteriormente, para entender que não é má profissional

8. Afaste críticas, cobranças ou julgamentos. Essas atitudes só servem para baixar a auto-estima

9. Reavalie o seu potencial. A sua profissão traz-lhe realmente prazer? Está na hora de virar a mesa e investir noutra carreira

10. Não desista de encontrar um trabalho. As crises, felizmente, são passageiras
http://www.kaminhos.com/artigo.aspx?id=8697&seccao=0

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