Entre os acusados está o humorista de rádio Mução; além de abranger 9 Estados do País, ação apontou 97 suspeitos no exterior
29 de junho de 2012 | 3h 01
ELDER OGLIARI / PORTO ALEGRE - O Estado de S.Paulo
A Polícia Federal brasileira desarticulou ontem uma rede internacional de compartilhamento de pornografia infantil na internet que atuava em 34 países. A operação, denominada DirtyNet (Rede Suja), teve apoio do Ministério Público Federal e da Interpol e prendeu 32 suspeitos em 9 Estados brasileiros. Entre os detidos está Rodrigo Vieira Emerenciano, o Mução, humorista conhecido em todo o País pelas pegadinhas radiofônicas.
Mução foi preso pela Polícia Federal (PF) no bairro Meireles, em Fortaleza. Ontem, seu programa, A Hora do Mução, permaneceu no ar. Mas foi apresentada uma reprise. Seus advogados, que já entraram com pedido de habeas corpus, negaram qualquer ato ilícito por parte do humorista e destacaram que o computador dele pode ter sido usado por terceiros.
A investigação, iniciada em dezembro, identificou 160 usuários na América, na Europa, na Ásia e na Oceania, dos quais 63 no Brasil e 97 no exterior. A Interpol encaminhou notícias criminais a todos os países com cidadãos envolvidos para que tomem providências, de acordo com suas legislações. Como consequência, ainda ontem foram desencadeadas operações no Reino Unido e na Bósnia.
Segundo os responsáveis pela investigação - a delegada de Defesa Institucional, Diana Calazans Mann, e o procurador da República na área criminal Rodrigo Valdez de Oliveira -, as fotografias e vídeos apreendidos mostram menores com idades de zero a 12 anos com genitália à mostra, adultos abusando de crianças, adolescentes e até bebês e crianças praticando sexo. Oliveira relatou que um dos cinco presos no Rio Grande do Sul tinha mais de 5,7 mil fotografias para compartilhar.
Os participantes da rede não têm um perfil definido. São de todas as classes sociais e de todos os níveis de conhecimento. "A maioria deles vai responder a processo por distribuição de pedofilia, crime que pode levar a penas de 3 a 6 anos de reclusão. As punições ainda podem ser aumentadas por crime continuado, quantidade de fotografias distribuídas e recebidas", afirma Oliveira. "Eventualmente, podem responder também pela posse do material", completa. Por esse delito, a condenação pode ser de 1 a 4 anos de reclusão. O procurador da República prevê ainda que parte dos envolvidos seja encaminhada a tratamento para superar a compulsão e se ressocializar.
A investigação também não terminará com as prisões e apreensões efetuadas nesta quinta-feira. Nas próximas etapas, com a análise de computadores, CDs, DVDs, pen drives e fotografias, os policiais tentarão identificar as vítimas e os adultos que aparecem nas imagens. Se, além de armazenarem e distribuírem as imagens, alguns participantes da rede também participaram de abuso e estupro de vulneráveis, terão de responder por esse crime.
Criptografia. A operação foi deflagrada depois da prisão de um homem com material pornográfico, no fim do ano passado. A Polícia Federal passou a analisar os contatos que ele tinha e descobriu a existência da rede, constatando que a organização era fechada e só dava acesso a convidados aprovados pelos demais integrantes. O material não era comercializado. A moeda de troca era o acervo de cada participante, que oferecia fotografias e vídeos e, com isso, tinha acesso às peças dos demais integrantes do esquema. O grupo usava um software de troca de arquivos criptografados para manter as operações em sigilo. Durante as buscas, alguns policiais perceberam que os integrantes da rede se sentiam seguros pelo anonimato e foram surpreendidos pelos mandados de prisão.
Segundo balanço distribuído pela Polícia Federal no fim da tarde, foram presas cinco pessoas no Rio Grande do Sul, três no Paraná, nove em São Paulo, cinco no Rio, uma no Espírito Santo, uma no Ceará, cinco em Minas, uma na Bahia e duas no Maranhão.
Os países que têm pelo menos um de seus moradores envolvidos com a rede são Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bósnia, Canadá, Chile, Colômbia, Croácia, Emirados Árabes Unidos, Equador, Estados Unidos, Filipinas, Finlândia, França, Grécia, Indonésia, Irã, Holanda, Macedônia, México, Noruega, Peru, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Rússia, Sérvia, Suécia, Tailândia e Venezuela. / COLABORARAM MARCELO GOMES e LAURIBERTO BRAGA
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