Mesmo sem supervisão médica, remédio representa 50% do consumo comparado com a época de seu lançamento no mercado
Texto por Letícia BrandãoEnviado por Diário da Manhã - ontem às 20h59Lançado em 1998 para homens com problemas de disfunção erétil e idade acima de 60 anos, o Viagra ganhou um novo público ao longo dos seus quase quinze anos nas prateleiras das farmácias de todo o País. Rapazes saudáveis, sem histórico de impotência sexual, compõem clientes em massa deste medicamento, que está sendo cada vez mais comprado e utilizado pela população mais jovem do que pelo próprio público-alvo do remédio.
O ex-presidente e atual conselheiro do Conselho Federal de Farmácia Jaldo de Souza afirma que o aumento no uso do Viagra por jovens chega a 50%, quando comparado com a época de seu lançamento no mercado. Jaldo considera esse número alto e atribui à queda do preço do medicamento ao longo dos anos e ao fato de os jovens terem o desejo de impressionar a companheira. Esse dado é confirmado pelos vendedores consultados pela reportagem. Eles afirmam que a procura pelo Viagra é maior pela população mais nova, e que a proporção nas vendas chega a três para um, ou seja, a cada três rapazes que buscam o medicamento, um homem mais velho faz o mesmo, a maioria sem prescrição médica.
O médico urologista Antônio de Morais Júnior ressalta que o Viagra é um remédio que não deve ser usado de forma indiscriminada. “O medicamento pode ser utilizado por homens de qualquer faixa etária, desde que haja indicação clínica e mediante um diagnóstico preciso”, atesta o especialista.
Antônio afirma que os jovens buscam novas sensações e assim usam o remédio juntamente com bebidas alcoólicas, o que provoca ainda mais riscos à saúde e, inclusive, o de não obter o prazer sexual esperado. “O Viagra associado ao álcool compõe uma mistura perigosa, porque, além de diminuir o efeito do remédio, ainda pode causar cefaleia, mal-estar, rubor facial e náuseas”, explica.
O especialista confirma que os jovens sem problemas de ereção não precisam do medicamento. “Eles usam no intuito de terem uma maior e melhor ereção, ou seja, para dar uma turbinada e apresentar um melhor desempenho, o que para esta idade, se souber conduzir o ato sexual, é totalmente dispensável”, sugere o urologista.
Vendas
De acordo com o gerente-geral de uma conceituada rede de farmácias em Goiânia, Isael Miranda, o perfil de quem compra o Viagra é bem variado no que se refere à faixa etária, mas quanto à classe social, é restringido às classes A e B. “Antes, o consumo era feito principalmente por homens mais velhos e casados, hoje, a maioria das compras são feitas por jovens solteiros”, salienta, afirmando que não é necessária receita médica. Isael também enfatiza que a maior parte das vendas é feita em balcão e não por meio de entregas.
O preço do Viagra varia entre R$ 13 e R$ 110. A grande diferença de valores está na composição do produto e a quantidade de comprimidos. O de 100 mg, por exemplo, contem quatro cápsulas e custa, em média, R$100. Já o de 50 mg, com um único comprimido, e que também é o mais procurado pelos jovens, pode ser encontrado nas farmácias por menos de R$15. “As dosagens são diferenciadas porque são analisadas e receitadas de acordo com cada diagnóstico. São divididas em leve, moderada e grave”, conclui o urologista Antônio de Morais Júnior.
Curiosidade
Movidos pela curiosidade e pelo prazer de viver novas experiências, dois jovens que não se conhecem e moram a mais de mil quilômetros de distância um do outro, confessaram que já fizeram uso do Viagra.
O técnico em enfermagem João Paulo (nome fictício), de 31 anos, mora em Anápolis e afirmou que ingeriu um comprimido no ano passado. Ele disse que os efeitos foram imediatos. “Tive muito mais disposição, coragem, foi mais duradouro, mas no fim já perde a graça e ainda tem a ansiedade”, comentou Paulo, que confirmou ter vontade de usar mais vezes, apesar da preferência pela forma natural. O profissional da saúde sabe dos riscos que correu tomando o remédio sem orientação médica. “Sou hipertenso e também não é recomendado para pessoas que tenham problemas cardíacos. Eu senti fadiga, e já vi pacientes que tomaram e tiveram parada cardiorrespiratória”, concluiu Paulo, que já foi casado e tem dois filhos.
O universitário Deylon (nome fictício), de 24 anos, reside em Parauapebas, no interior do Pará e, em entrevista pela internet, disse à reportagem que a primeira vez em que tomou o Viagra foi aos 18 anos. Desde então tornou-se consumidor do medicamento, visto que usou em muitas ocasiões. “No meu círculo de amizade, todos já usaram pelo menos uma vez. A curiosidade é grande, e o efeito é sensacional”, descreve o estudante, que disse não ter receios em usar o produto, ainda que de forma indiscriminada.
Para a psicóloga e sexóloga Deusadete Carneiro Maciel, o uso ocasional do Viagra não gera dependência, porém, o uso contínuo e sem indicação médica pode levar o jovem a um quadro de dependência psicológica. “Se o jovem não tiver nenhum problema de ordem fisiológica funcional, o simples fato de ele procurar utilizar o medicamento já sugere insegurança, e se ele ingere a medicação para não correr o risco de falhar, e sempre confiante no resultado satisfatório do remédio, será cada vez mais comum que a cada encontro sexual ele utilize o Viagra”, explica Deusadete.
A dependência acontece em questão de tempo. “O medo de não ter um bom desempenho faz com que a pessoa sempre necessite fazer o uso e, assim, sem perceber vai se tornando dependente da droga”, continua a sexóloga. Quando o paciente já possui esse diagnóstico, relacionado ao vício em usar o medicamento antes das relações sexuais, a especialista aconselha tratamento. “Normalmente requer um treino psicológico chamado dessensibilização e também treino de habilidades sociais”, orienta Deusadete. http://www.dm.com.br/#!/texto?id=34844
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