Educação Sexual: Escola X Família
Há décadas que existe uma preocupação das pessoas em nossa cultura: Tratar da educação sexual em sala de aula desde cedo pode representar um incentivo para a criança ou o adolescente iniciar a vida sexual prematuramente?
Esta preocupação existe desde o final da década de 1960 nos países em que a proposta de educação sexual se iniciou. O que ocorreu nos Estados Unidos foi bem estudado: as crianças e adolescente que recebem a educação sexual afetiva não iniciam a vida sexual mais cedo, não engravidam e não adquirem doenças sexualmente transmissíveis. Durante a administração do Presidente George W. Bush as verbas federais para a educação sexual foram suspensas e em 5 anos os números de gravidez na adolescência e doenças sexuais voltaram a aumentar e a iniciação sexual coital passou a ocorrer mais cedo.
A sexualidade é uma curiosidade desde o nascimento, pois as crianças percebem que existe algo que os adultos chamam de sexualidade e tentam entender o mundo, como nasceram e como crescem e como são os sentimentos e emoções que se envolvem nesta sexualidade. Se os adultos não lhes fornecerem compreensões (cognição associada a emoções e comportamentos), as crianças buscaram os próprios meios de encontrar as respostas. Assim as crianças encontram outras que também estão tentando entender estas questões e imitarão o que percebem os pais fazerem (imitação é um dos principais mecanismos dos humanos em aprender a ser humano, principalmente nas crianças…)
Mas evitar abordar temas como a sexualidade faz com que as crianças se sintam ainda mais curiosas? Com certeza!
Se os pais evitam, os filhos tentam outros meios de saber o que é esta coisa que chamamos de sexualidade.
Se não buscarem as outras fontes e conseguirem elaborar internamente, devem criar teorias pessoais, que provavelmente as farão infelizes ao se depararem no futuro com outra realidade que não a que acreditou a vida toda…
A falta dessas informações sobre a sexualidade, desde a infância, pode acarretar uma série de problemas na vida do adolescente e do adulto. Desde disfunções sexuais a afastamento de situações sexuais, conduzindo a iniciação sexual precoce ou extremamente tardia, desenvolver alternativas sexuais diferentes das dos pais, desenvolver comportamento de falta de confiança nos relacionamentos interpessoais, especialmente os afetivos. E este é o mundo em que vivemos em nosso país. Apenas quando as consequências negativas afetam a produtividade média no trabalho é que nossa cultura considera um problema e rotula de doença.
É preciso encontrar uma forma de abordar o tema da sexualidade com um aluno do ensino fundamental, e esta forma deve ser diferente de um aluno do ensino médio. Cada criança a cada ano de vida se encontra em estágios diferentes de desenvolvimento cognitivo e afetivo. Cada fase implica em desenvolvimento de características diferentes que precisam ser compreendidas pelo professor ou os pais que cuidam de seus filhos.
Trata-se de uma enorme responsabilidade.
O método exige três fatores:
- conhecer como cada criança funciona naquela determinada idade; aqui é necessário se considerar que alguns já estão mais adiantados e outros atrasados neste desenvolvimento;
- conhecer as informações sobre sexualidade em todos os aspectos, incluindo o desenvolvimento sexual de crianças e adolescentes sob atenção. É necessário ter respostas para fornecer aos questionamentos;
- compreender diferenças entre técnicas pedagógicas e psicológicas, sendo que as últimas serão exigidas para todas as variações onde as técnicas pedagógicas não funcionarem.
Em casa, os pais também devem ter cuidados ao tratar do assunto sexualidade com os filhos. Os pais também precisam reconhecer como se dão as diferenças de desenvolvimento em seus filhos e quais as necessidades que precisam ser satisfeitas.
Se os pais não sabem as respostas para os questionamentos que os filhos fizerem, eles saberão se os pais mentirem ou tentarem enrolar. Isto implica que os pais precisam saber dizer que não sabem e que procurarão a informação que os filhos precisam. A maior parte dos pais tentará mentir para encobrir a falta de informação, e os filhos aprenderão uma coisa: não devem confiar e nem perguntar novamente coisas de sexo…
Então os pais precisam buscar informações sobre sexualidade, ler mais. Assim terão informações básicas ou saber onde encontrá-las para auxiliar seus filhos em suas dúvidas.
E aqui temos um enorme problema: estes pais não sabem nem onde encontrar informações seguras, viveram mitos e mantém estas formas distorcidas de realidade, que agora repassarão aos filhos.
O melhor para a educação sexual de crianças será uma necessária parceria entre a escola e os pais para orientar as crianças e os adolescentes. Na verdade, a escola somente pode apresentar as discussões sobre sexo a crianças e adolescentes com o consentimento dos pais. Muitos dão o consentimento para livrarem-se da responsabilidade de terem que se dedicar a discutir o que não sabem…
Um bom processo de educação sexual numa escola implicará que os professores, os funcionários, os pais e os alunos estejam envolvidos.
Os pais nem sempre sabem o que fazer, o que contar, o que responder aos filhos quando são perguntados sobre sexo. Ao sentir-se inseguro, o pai ou a mãe deve afirmar que não sabe a resposta do que o filho pergunta. Melhor será dizer que ambos procurarão as respostas e soluções… propor essa parceria é mais justo e demonstrará que o filho pode confiar nos pais.
Se esconder que não sabe estará instruindo os filhos a não acreditarem mais nele…
Na escola ocorre algo semelhante. O professor precisaria conhecer mais como a criança funciona cognitiva e emocionalmente, além de buscar conhecimentos sobre sexualidade em geral, e em especial sobre as necessidades dos alunos da idade que ensina.
Pais ou escola – quem deve tratar da sexualidade com as crianças?
É papel de todas as instituições sociais, e isto inclui família e escola, mas também a religião, o trabalho…
Cada instituição tem seu limite e suas obrigações diferentes.
A família tem a obrigação de impor seus valores morais para que o comportamento sexual seja compatível de continuar a existir nesta família. Assim ocorre com cada outra instituição…
Na escola a criança e o adolescente receberão informações e aprenderão atitudes de como conviver com a sexualidade e as funções sociais do que chamamos de sexualidade.
Fonte: Psic. Oswaldo M. Rodrigues Jr. (CRP06/20610), psicoterapeuta sexual e de casais do Instituto Paulista de Sexualidade – www.inpasex.com.br; autor de vários livros sobre sexualidade, incluindo “Amor e Sexualidade” (Iglu ed., 2007), “Problemas sexuais” (Biblioteca 24×7, 2008); e-mail oswrod@uol.com.br –www.oswrod.psc.br
Psic. Oswaldo Martins Rodrigues Junior
CRP 06/20610
GEPIPS – Grupo de Estudos e Pesquisas do Instituto Paulista de Sexualidade
Coordenador de Pesquisas
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