quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dando nome às coisas

Dando nome às coisas
Fábio Massalli
Pode parecer sacanagem, mas o assunto é sério. São 1.308 palavras

trazendo sinônimos para pênis, vagina, masturbação e relação sexual, coletadas durante a tese de doutorado da professora de Teoria e Prática da Educação da UEM Eliane Rose Maio. O trabalho foi transformado no livro "O Nome das Coisas", que será lançado hoje em Maringá.

São 408 sinônimos para pênis, 494 para vagina, 177 para masturbação ("sendo que apenas 20 para a masturbação feminina, o que já é um sinal de repressão", diz Eliane) e 229 para a relação sexual.

Alguns sinônimos de pênis e vagina são bastante conhecidos. Outros chegam a ser, no mínimo, curiosos, como "ver a cidade de cima" para relação sexual.




João Paulo Santos

Eliane Rose Maio, sobre os sinônimos da

relação: "A maioria é o homem tentando

mostrar que domina"

As palavras foram coletadas em uma pesquisa com 4.916 pessoas, com idades entre 18 e 65 anos, de cidades de pequeno, médio e grande porte dos Estados do Paraná, Ceará, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.



"Eu aproveitava as palestras e cursos que ia fazer nesses Estados para fazer a pesquisa. Apesar de pesquisar em diversas regiões, eu não senti uma grande variedade de termos de um Estado para o outro", diz.



Repressão

Ao analisar as 1.308 palavras encontradas para definir os termos, Eliane encontrou um contexto de repressão sexual que é um reflexo da sociedade. "Em uma análise de conteúdo, a maioria das palavras que se referem ao pênis são nomes com significados que remetem a machucar, dominar e controlar, já nas mulheres, para representar a vulva, são nomes suaves, que tentam transmitir uma questão de submissão", diz.

A dominação masculina, na análise da professora, se mantém também nas palavras que definem a relação sexual. "A maioria é o homem tentando mostrar que domina a situação. É o homem que machuca e a mulher que recebe. E em uma situação em que a mulher não pode gozar", diz.



Conclusões

O livro foi construído a partir do estudo dos chamados palavrões em um contexto da repressão sexual e das consequências dentro da escola. A pesquisa foi feita como tese de doutorado de Eliane em Educação Escolar na Unesp de Araraquara e foi defendida em maio de 2008.





Lançamento
Lançamento do livro "O Nome da Coisa"
(R$ 43, 282 pág.,
Editora Unicorpore),
de Eliane Rose Maio.
Hoje, às 19h30, nas
Livrarias Espaço
Maringá Park


"O Nome da Coisa" foi escrito a partir de uma pesquisa feita principalmente com professores e uma das conclusões feitas por Eliane é que quase nenhuma escola faz um trabalho efetivo de educação sexual.

"Quando a escola faz, foca principalmente nas doenças sexualmente transmissíveis (DST) e na gravidez na adolescência, com uma linguagem e conteúdo que normalmente não chega aos jovens", diz.

Outro tabu encontrado por Eliane em sua pesquisa é que a educação sexual não é abordada na educação infantil. "É na educação infantil que os professores, juntamente com a família, deveriam trabalhar essa questão com mais naturalidade e os professores terem liberdade, conhecimento e se libertar dos preconceitos para tratar dessa questão", diz a professora da UEM.

No dia 10 de maio, Eliane esteve no Programa do Jô para falar sobre sua pesquisa e seu livro. O humorista-entrevistador, claro, ficou animadíssimo com o assunto e esticou o papo ao má- ximo, para delícia do público.



Núcleo

Eliane explica que ainda existe muito a ser feito e para se trabalhar na questão da sexualidade na formação dos docentes. Ela conta que, mesmo no meio universitário, ainda existe muita repressão e preconceito quando se tenta tratar de sexualidade. "Existem poucos currículos de formação de docente que tratam da questão do gênero e da sexualidade", diz.

O Núcleo de Estudos em Diversidade Sexual (Nudesex) da UEM, do qual Eliane faz parte, organiza eventos, encontros e seminários, e está em processo de conclusão de uma especialização à distância sobre a questão do gênero e da diversidade.

Em abril, o Nudesex organizou o 2º Simpósio Internacional de Educação Sexual, onde aconteceu o pré-lançamento de "O Nome da Coisa". O próximo objetivo do núcleo é montar o Observatório de Violência de Gênero, que funcionará nos mesmos moldes do Observatório das Metrópoles.
http://maringa.odiario.com/dmais/noticia/430338/dando-nome-as-coisas/

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