(Homo)Sexualidade e a esquerda
24/6/2011 20:49, Por Adital
A Teologia da Libertação, como sabemos, produziu umpoderoso discurso religioso de crítica às injustiças sociais e apresentou umaimagem de Deus compassivo e solidário com os sofrimentos dos pobres do mundointeiro. O seu impacto foi tão grande que ultrapassou o continentelatino-americano e atingiu o cristianismo nos outros continentes; e foi maisalém do próprio o mundo cristão e entrou também no mundo judaico, budista eislâmico. (Há hoje uma produção importante da teologia islâmica de libertaçãoque é pouco conhecida por aqui.)
O que une setores dessas diversas religiões não é umacompreensão convergente de Deus (no budismo majoritário, não há noção de Deus),nem uma vontade de estabelecer um diálogo religioso pelo diálogo, mas aconvicção ética de que a (sua) religião deve assumir responsabilidades frente àtão gritante injustiça social que marca o nosso mundo. É a capacidade de veralém das riquezas, dos luxos e luzes que brilham nos grandes centros eencontrar rostos de pessoas pobres que sofrem.
Criar uma ampla aliança “religiosa” em torno da “opçãopelos pobres” não é uma tarefa tão fácil porque há muitos setores em todas asreligiões que crêem que a religião não deve se misturar com problemas econflitos sociais, ou que a realidade social existente é expressão da vontadede deus todo-poderoso que controlaria o mundo ou da “lei do carma” ou de algumtipo de destino controlado pelas leis ou vontades divinas. Contudo, a lutacontra injustiça e opressão está unindo muitos.
Ao lado dessa luta, há também outras lutas importantesque foram sendo objetos de atenção por parte dos teólogos e dos setores dasigrejas e religiões nas últimas décadas: a luta das mulheres contra a opressãopatriarcal e machista, a luta dos negros e dos indígenas e também de outrasminorias étnicas dentro de sociedades preconceituosas. Essas são lutas quediferem da luta em torno da opção pelos pobres porque têm a ver com dinâmicassociais e psicológicas que vão além das questões econômicas e de classes. Mas,na medida em que essas diversas formas de opressão se dão dentro de um sistemasocial globalizado, a articulação das teologias feminista, negra e indígena e aopção pelos pobres tem sido uma tarefa assumida por muitos/as teólogos/as pormuitas partes do mundo. E isto não tem sido fácil, especialmente no campoprático. Por exemplo, muitos e muitas que lutam pela superação da pobreza aindacarregam dentro de si, em lugares profundos da sua psique, visões machistas domundo e de Deus.
Mas, o que eu realmente queria propor aqui parareflexão é a necessidade de aprofundarmos reflexões sobre um tema ainda poucotrabalhado neste vasto grupo das teologias críticas ou teologias da libertaçãoem um sentido mais amplo: o da sexualidade. É claro que diversos teólogos/as játrataram do tema da “moral sexual” em uma perspectiva libertadora, e a teoriado gênero trabalha com a construção social da identidade e diferenças degênero. Contudo, a emergência no campo da mídia massiva das lutas doshomossexuais e da forte reação por parte significativa da sociedade,especialmente de setores religiosos, transforma esse tema em tema urgente.
O que vemos no debate mais massivo são posições muitosemelhantes, com sinais trocados. De um lado, uma condenação em si de todos ostipos de e relacionamentos homossexuais, de outro, uma aprovação a priori.Essas duas posições não costumam distinguir a orientação sexual –hetero ouhomo– da questão moral que surge nos relacionamentos afetivos e sexuais entrepessoas concretas. A grande parte da discussão está se dando em torno da homoou heterossexualidade em si.
O problema vai além da introdução da discussão daética sexual nas lutas de gênero, etnia e da justiça social. É preciso levar emconta a complexidade das relações que se entrecruzam nas lutas sociaisconcretas. Tomemos como um exemplo a disputa em torno do PL 122, projeto de leique criminaliza homofobia. O senador Walter Pinheiro (PT-BA), que é reconhecidocomo alguém que luta pela superação do capitalismo e é um quadro importante daDS, uma tendência do PT conhecido por ser mais de esquerda dentro do partido,assumiu, em nome da sua fé, uma posição que é, para muitos da esquerda,inaceitável. Ele participou de uma manifestação contrária a PL 122 promovidapor setores evangélicos. Como era de se esperar, isso gerou polêmica e épossível encontrar na internet “cartas abertas” bastante agressivas.
Esse exemplo mostra como a divisão entre a direita e aesquerda no campo político não funciona bem quando lidamos com temas como o dasexualidade. Isso nos mostra que precisamos debater e estudar com seriedadeesse tema e as relações que novas visões vão implicar na luta por um mundo maisjusto e humano.
[Autor, juntamente com Hugo Assmann, de "Deus em nós:o reinado que acontece no amor solidário aos pobres”, Ed. Paulo. Twitter:@jungmosung].
http://correiodobrasil.com.br/homosexualidade-e-a-esquerda/259028/
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