domingo, 12 de junho de 2011

Vida longa ao sexo

Vida longa ao sexo
12/06/2011 07H11
População idosa brasileira cresce em ritmo acelerado e desperta cada vez mais interesse acerca da busca pela sexualidade satisfatória. Tratamentos e medicamentos têm sido mais procurados e o tabu sobre o tema diminui com o passar dos anos. No entanto, as novidades trazem um alerta: o índice de portadores do HIV na terceira idade têm aumentado bastante nos últimos anos
RODRIGO ANDRADE
O Brasil está ficando idoso. Relatório divulgado pelo Banco Mundial (Bird) mostra que a população do país envelhece em ritmo frenético – muito mais rápido do que nas nações consideradas desenvolvidas. Para se ter ideia, enquanto a França levou mais de um século para aumentar de 7% para 14% a população acima de 65 anos, o Brasil passará pelo mesmo processo em duas décadas: de 2011 a 2031. Segundo o Bird, a população idosa tupiniquim, que hoje corresponde a 11%, daqui a 40 anos será de 49%.

Mas o que interessa a DeFato, nesta matéria, é o vigor escondido sob as rugas e cabelos brancos. Vigor, leia-se, sexual. Isso mesmo. É cada vez maior o interesse dos idosos no aprimoramento da sexualidade e no convívio satisfatório com a libido. Trata-se da constante descoberta de que sexo, realmente, é vida – até na terceira idade.

Para a psicóloga e especialista em sexologia clínica, Andreza Figueiredo, a facilidade de acesso à informação e a nova maneira de entender e expressar a sexualidade contribuem para que os idosos busquem a maior satisfação nesse campo, mesmo na idade em que muitos já se consideram inválidos. “Acredito que as próximas gerações de idosos vão vivenciar a sexualidade mais ativamente. As discussões têm se tornado acessíveis, o que faz diminuir o tabu acerca do tema”, analisa a psicóloga.

“Estou vivo”
O personagem de nossa matéria é um aposentado com o astral altíssimo. Aos 64 anos, ele afirma que “está vivo, e muito bem vivo”. Vamos chamá-lo pelo nome fictício de Alberto (ele não quis se revelar). “Tenho medo de que me chamem de velho pervertido”, brinca.

Alberto é casado há 48 anos. O aposentado diz que nunca traiu sua mulher e aponta os motivos para a fidelidade. “Ela me proporciona tudo o que me faz feliz, em todos os sentidos. É minha companheira. Olha, estou sendo sincero, a gente faz amor umas duas, três vezes por semana. E antes que me pergunte se isso é muito ou pouco, eu te respondo que, na nossa idade (ela tem 62), é bastante. Então, para quê vou procurar outra? Não preciso”, narra. “E tem o amor que sinto também, é claro”, acrescenta o aposentado, aos risos, safando-se de não ter mencionado o sentimento pela companheira.

Alberto, entretanto, admite que seu desempenho sexual não é o mesmo de outros tempos. “Às vezes falha, né?!”, diz. “Mas aí temos o milagroso remedinho azul”, completa, imediatamente.

Estimulante
O “remedinho azul” em questão é o Citrato de Sidenafil, mais famoso como Viagra. É um estimulante sexual que permite ao homem com disfunção erétil ter uma vida sexual ativa. Essa droga passou a ser vendida na década passada e, este ano, teve sua patente quebrada, ou seja, foi liberada a produção de seus genéricos. Isso tornou mais fácil o acesso.

Mas se engana quem pensa que o Viagra pode ser comprado por qualquer um. É necessário encaminhamento médico, pois há efeitos colaterais, sendo o mais perigoso a aceleração da frequência cardíaca. Alguns outros são: dor de cabeça, rubor facial, má digestão, congestão nasal, alteração na visão das cores (azul/verde) e diarréia.

“O uso de Cialis, Levitra ou Viagra depende de recomendação médica. Em muitos casos, adequações do casal à nova realidade sexual é que são necessárias. O uso das medicações é bem satisfatório quando o homem apresenta problemas orgânicos, que dificultam a ereção”, explica a psicóloga Andreza Figueiredo.
A nova realidade sexual a que ela se refere é a aceitação de que é normal o corpo mudar e o desempenho diminuir. O medicamento não funciona sozinho. Se o homem não consegue trocar com sua parceira carícias, beijos e toques, o remédio simplesmente não faz efeito. Portanto, a droga pode ser a solução para as disfunções eréteis, mas não resolve problemas de relacionamento. Para tanto, o melhor a se fazer é procurar a psicoterapia.

Terapia
De acordo com Andreza, Alberto está no perfil das pessoas que buscam ajuda para resolver problemas sexuais. Segundo a profissional, a maior parte do público da terceira idade que vai ao seu consultório é de homens, geralmente com formação superior ou técnica e com família constituída. As principais queixas são disfunção erétil, ejaculação precoce e desejo sexual inibido.

A psicóloga explica que a terapia busca dar conhecimento ao casal. Nessa fase, o processo de envelhecimento do corpo modifica a resposta sexual do organismo. “Há uma diminuição do desejo, tanto no homem como na mulher. Ele não consegue mais ereções tão rígidas, o estímulo sexual tem de ser maior”, detalha.

As três etapas da terapia são: anamnese, que é um questionário sexual para diagnosticar as disfunções; reestruturação cognitiva, que é o trabalho de modificação dos pensamentos dos pacientes; e o ensino de técnicas sexuais, que são exercícios realizados pelos atendidos para que vivenciem uma sexualidade adequada. Essas técnicas, praticadas fora do consultório, são específicas para cada caso de disfunção.

Cresce o índice de HIV

Segundo o Ministério da Saúde, em 2002, 39% dos brasileiros acima de 60 anos (faixa etária que marca o início da terceira idade) são sexualmente ativos. Entre 1993 e 2003, o número de soropositivos aumentou 130% entre os homens e 396% entre as mulheres com mais de 50 anos.

Em Itabira, esse índice também é crescente. De acordo com dados de abril deste ano, da Policlínica Municipal, 58 pessoas acima dos 50 anos fazem tratamento contra o HIV na cidade. Esse número representa 17,96% do total de soropositivos que se tratam na unidade. A incidência da doença nessa faixa etária dobrou nos últimos dez anos.

Para a coordenadora do Programa Municipal DST/Aids de Itabira, a enfermeira Maisa Colombo, há explicações. “Os idosos são de uma geração em que não se usava camisinha”, resume. Ela ressalta que a maior incidência está na faixa dos 25 a 49 anos (mais de 80%), mas que a preocupação com a doença deve ser para qualquer idade. “A Aids é assunto de todos: jovens, mulheres e pessoas com mais de 50 anos”, analisa.

Na Câmara Federal, em Brasília, tramita um projeto de lei que propõe uma campanha permanente e obrigatória de prevenção à Aids para pessoas da terceira idade. As informações devem circular, no mínimo, duas vezes por ano na mídia impressa e eletrônica. A proposta sugere que as mensagens publicitárias tenham como enfoque a prevenção.

Um estudo publicado pela psicóloga Marlene Zornetta, do hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aborda a questão do crescimento do HIV na terceira idade. “Normal para jovens de vinte e poucos anos, o preservativo não faz parte da rotina das pessoas mais velhas”, argumenta a profissional. Marlene ainda diz que o pensamento dos idosos, em certo ponto, se assemelha ao dos jovens. “Eles são preconceituosos e temerosos em revelar sua condição de soropositivos, dificultando o trabalho psicológico em grupo”, defende.

Nosso personagem não gosta nem de ouvir a palavra Aids. Alberto diz que já perdeu dois amigos, ainda jovens, por causa da doença. “Na nossa juventude, as pessoas tinham a ideia de que a promiscuidade demonstrava liberdade. Infelizmente, alguns ainda pagam por isso”, comenta. No entanto, ele admite que, para seus contemporâneos, há resistência quanto à camisinha. “A gente já não tem aquele ‘trem’ todo e a camisinha diminui ainda mais o desempenho!”, argumenta.

Saúde é tudo!
Muitos são os pontos de vista e as opiniões e, por isso mesmo, há várias divergências entre os estudiosos do tema. Porém, um ponto é unanimidade: a sexualidade satisfatória caminha junto com a saúde. É fundamental ficar longe dos vícios e realizar, com frequência, atividades físicas.

“Gosto de jogar minha petequinha e dar as minhas corridinhas. Tem hora que o corpo pesa, pede para parar. Mas a gente não pode amolecer, porque, nessa minha idade, se estacionar não arranca mais”, brinca o bem humorado Alberto.

A psicóloga Andreza concorda com os colegas especialistas e com o nosso personagem. “A sexualidade saudável depende de um conjunto de fatores, tais como a boa relação com o corpo, autoestima, entrosamento do casal, informação, intimidade e outros aspectos”, finaliza.
http://www.defatoonline.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=17958

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