segunda-feira, 27 de junho de 2011

Orgulho e visibilidade

Orgulho e visibilidade
25.06.2011| 17:00

Os mais jovens hoje já encaram com naturalidade (IANA SOARES )
O processo de assumir publicamente sua sexualidade pode ser cada vez menos traumático e mais natural. Para si mesmo, a família, os amigos, no trabalho e na rua, os homossexuais vão conquistando seu espaço com orgulho e visibilidade

Os homossexuais estão saindo do armário. Abrindo a porta em casa, no trabalho e na rua. Casando, formando famílias, trabalhando, com as mesmas delícias e problemas dos héteros. Vivendo naturalmente, sem hipocrisias, sua sexualidade. “Sair do armário é, antes de tudo, se aceitar. Na fase em que descobrimos qual o objeto do nosso desejo - e ela vem cedo, na adolescência, como é com o hétero -, você sente vergonha. No dia em que decide ter uma relação positiva com sua sexualidade, vivê-la com plenitude e orgulho, você sai do armário. Tem a ver primeiro com você, depois com os outros”, explica o jornalista e escritor baiano Jean Wyllys, hoje deputado federal pelo PSol (RJ), que saiu do armário nacionalmente ao participar do reality show Big Brother Brasil, em 2006.


Para os mais jovens, tem sido ainda mais natural assumir sua homossexualidade e exercê-la publicamente. Eles começam a ocupar a cidade, praças e avenidas, alargando os guetos ocupados pela geração anterior, que desbravou o espaço público, abrindo a porta do armário definitivamente. “Os adolescentes desde cedo começam a mostrar quem são, o que querem, é mais escancarado. Só acho que pode banalizar, mas é o que acontece na adolescência, a gente quer beijar muita gente. Além da aceitação, eles querem provar que são gays e não se importam com isso”, diz o professor universitário de 24 anos que chegou a namorar meninas “pela imagem”, saiu do armário quando entrou na faculdade, não perdeu os amigos héteros, mas prefere não sair do armário em casa.

Filho único de pais mais velhos, vindos do interior, pelas suas contas não é lucro abrir o jogo com eles. “Não seria fácil e o fato de não ter me assumido em casa não me priva de nada. Eles iam sofrer, ter medo da violência contra os homossexuais, não quero preocupar a cabeça deles. Não vejo necessidade”. Na casa do namorado, o promotor de vendas de 28 anos que os pais conhecem como um amigo, é diferente. “Lá eles sabem que sou namorado dele, é super tranquilo”.

Porta entreaberta
Sair do armário não é uma coisa linear. Pode ser dito com todas as letras para os amigos íntimos e para o núcleo da família, mas não no trabalho, na reunião de condomínio ou para as tias. “Não saio dizendo pra todo mundo porque diz respeito a mim. Paras as pessoas que interessam, o núcleo familiar e o círculo de amizades, cheguei e contei. Por mais que às vezes não seja conversado, todo mundo sabe, mas não saio levantando bandeira”, diz a arquiteta de 35 anos que saiu do armário aos 18, quando teve a primeira namorada. Poucos homossexuais estão dispostos a dizer na entrevista de emprego, por exemplo, que são gays, como fez Jean Wyllys. E nem de longe têm essa obrigação.

“Meus colegas não sabem não porque escondo. Se me perguntarem, não vou mentir. Se encontrá-los com minha namorada, não vou me esconder. Trato de forma natural. Não é uma bandeira a ser levantada. A grande luta da minha geração é não ser reduzida a isso”, explica a professora universitária de 37 anos. Mas mesmo que não seja intencional, escancarar o armário assim é uma atitude política e a militância depende disso. “Sou da teoria de que quem se assume vive melhor consigo e com a sociedade. Para o movimento é importante que cada vez mais gays, lésbicas e travestis se assumam em todos os espaços. Uma população invisível não tem política pública. Mas será que os gays querem de fato política e visibilidade? Visibilidade é pra quem precisa. É mais fácil se assumir na diversão do que na vida política”, critica o presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira.

A comunidade LGBT também é diversa e encara a saída do armário de diferentes maneiras, mas todos concordam que deixar a porta trancada é a pior atitude. Além da infelicidade de uma vida dupla, os gays ditos enrustidos são os maiores alvos de preconceito e piada, mesmo que velados, inclusive entre os próprios homossexuais, além de mais vulneráveis à violência gerada pela homofobia. “Os traços se apresentam. Quer queira, quer não, o homossexual não consegue se camuflar em absoluto e a vigilância da ordem se expressa em comentários e risadinhas por trás. Viver essa vida é pior”, diz Jean Wyllys.

O educador físico de 51 anos que saiu do armário há 30, já cansou de cruzar com homossexuais que só vivem sua sexualidade em sites de relacionamento e saunas gays. Na vida pública, são heterossexuais ou “assexuados”. “Pegam no pé exatamente desse que não sai do armário. O povo tem medo de mexer com quem assume. Trabalho a vida toda em academia, um ambiente que tem muito homem metido a machão, e nunca tive problema de preconceito. O alvo é o cara que tem três filhas, é casado, mas vive na sauna gay. Tem um caso assim onde dou aula. Os alunos sabem, quando ele dá as costas, serve de chacota e acaba não fazendo o que quer. É triste”, lamenta. Vivendo um relacionamento há 19 anos, ele recebe os convites para os eventos sociais das alunas da academia em nome do casal. (Mariana Toniatti)
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/06/25/noticiavidaeartejornal,2260407/orgulho-e-visibilidade.shtml

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