terça-feira, 14 de junho de 2011

O Amor nos Tempos do Sexo

O Amor nos Tempos do Sexo
Uma reflexão sobre a resistência do amor à ditadura estética
06/04/2011
Por Heloneida Studart*
Não me interesso por reis, nem os do baralho. Mas como me interesso pelo amor e, principalmente, por histórias de amor, não pude evitar o envolvimento quando li que aconteceu o final feliz da saga amorosa do príncipe Charles, herdeiro do trono da Inglaterra e dessa senhora de meia idade, Camila Parker, sua eterna namorada.

Trinta e quatro anos de amor! Trinta e quatro anos entre dificuldades de toda ordem, imposições da família real, intrometimentos da Igreja Anglicana, casamentos com pessoas diferentes, cerimônias espetaculares (o casamento dele com Lady Diana foi um dos eventos de maior pompa que o Reino Unido já viu), filhos de outros matrimônios e o amor dos dois lá, brilhando, como uma luz extraterrena, um sol perpétuo.

E nem se pode dizer que era um desses afetos eternizados pelas afinidades intelectuais e psicológicas como foi, por exemplo, o de Sartre e Simone de Beauvoir. Nada disso. O romance do feio e desengonçado filho da rainha Elisabeth com a feiosa Camila tinha fortes raízes eróticas como mostrou o telefonema gravado de um diálogo entre os dois ("Eu queria ser um Tampax", etc).

Ele a amou toda a vida como Florentino Ariza amou Firmina Daza, em Amor nos Tempos de Cólera, de Gabriel Garcia Marques. Não valeu o tempo, não importaram as rugas, as pelancas. O mundo inteiro, convertido aos mitos da beleza e da juventude, torceu para que ele amasse a formosa Diana. No entanto, o príncipe desengonçado só amou a sua bruxinha, com aquela cara amassada e cheia de marcas, com aquele corpo desgracioso.

Camila Parker Bowler é uma vitória do amor sobre todos os estereótipos do nosso tempo. Juliana Paes, com seu traseiro formoso, inspiraria amor igual? E Luma de Oliveira, com suas coxas célebres? Seguramente, não. Essa inglesa feia, de 57 anos (ela é até mais velha do que o príncipe) mostrou a todas as mulheres, as que não são jovens, não são belas, nunca aplicaram silicone ou usaram botox, que uma mulher pode ser amada por ela mesma - e para sempre. A obsessão pelos corpos sarados, pelas formas perfeitas, pelo estilo feminino top model foi derrotada por esse obstinado romance.

O romantismo ganhou, o sentimento prevaleceu e as mulheres tidas como feias também podem sonhar com seu príncipe. Seja ele príncipe de verdade, ou de fantasia. Pertença à Casa de Windsor ou à casa nenhuma, com sobrenome Pereira ou Silva.

Camila Parker, quando subiu ao altar, em cerimônia discreta, deve ter se sentido a mais linda das noivas. E certamente, à noite, quando mais uma vez se despiu diante dele, o príncipe vai enxergar não o corpo flácido de uma senhora, mas o corpo esbelto, juvenil, perfeito que possuem todas as mulheres, de qualquer idade, quando são amadas.

Texto enviado pela leitora Fofuxa, do Rio de Janeiro/RJ.
* Heloneida Studart é jornalista, escritora e feminista das boas.
http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2.asp?conteudo_id=8214

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