terça-feira, 19 de abril de 2011

Presença de namorados de filhos em casa faz adultos questionarem a própria sexualidade

Sexualidade liberada
Presença de namorados de filhos em casa faz adultos questionarem a própria sexualidade

Por Simone Muniz
19/10/2009

De repente, amanhece e sua linda filha de 20 anos está com o namorado em casa, sem pedir licença. Ele, uma figura desconhecida, estranha, rebelde e, talvez, um piercing que, como a cena típica de cinema ou de comercial de margarina, surpreende a todos em um assalto à geladeira. Logo, além do rapaz, invade sua vida um turbilhão de pensamentos. "Na minha época, não era assim", pensam todos os pais. E quem, sem querer, acaba por assistir a cenas na cozinha, começa a se questionar sobre sua própria vida amorosa e sexual.

Abrir a própria casa para o desabrochar da sexualidade dos filhos não funciona apenas como um início de reflexão sobre a responsabilidade e a educação deles, que muitas vezes habitam a casa dos pais como se fossem os únicos moradores do local. Mais do que invasão de privacidade, os namorados dos filhos também provocam reflexão sobre as experiências sexuais passadas e futuras dos pais, estejam estes juntos ou divorciados. Afinal, mesmo os casais mais bem resolvidos não viveram a juventude em uma época de unânima liberdade sexual.

Foi por conta da tão complicada a relação entre pais e namorados dos filhos que a jornalista e mãe de duas ex-adolescentes, Lucia Rito, escreveu "Como Lidar com os Namorados dos Filhos", da Editora Record. No livro, ela explica algumas das reações mais íntimas deles ao se depararem com a libido explosiva dos filhos dentro de casa. "Eles se sentem compelidos a modificar seu comportamento e a forma de lidar com a própria sexualidade. Alguns resolvem cuidar do visual, fazem uma lipo, sucumbem à depressão, ou simplesmente desabafam mais com os amigos. Outros, quem sabe, até se abrem para uma nova paixão?", resume.

Lucia é uma das que lamenta não ter tido a mesma sorte dos filhos. "Tinha horário para voltar para casa e só podia namorar acompanhada de minhas irmãs. Em compensação, permito a elas o que gostaria de ter tido", argumenta. Ela confessa que sofreu com a idéia de ter vivido menos liberdade, mas, hoje, aos 53 anos, se sente muito mais plena do que a geração de seus pais com a mesma idade. "Os avós de hoje, aos cinqüenta e poucos, já eram senhores recatados", acrescenta.

Por outro lado, a psicanalista e professora da USP, Maria Alves de Toledo Bruns, teme essa cobrança por uma "sexualidade bem resolvida", feita pela mídia e pela sociedade, e que se torna ainda mais explícita quando os filhos começam a trazer os namorados para casa. Em reação a essa exigência, tanto filhos quanto os pais parecem precisar se mostrar ativos sexualmente. O que pode levar até mesmo uma competição e, em excesso, a uma baixa autoestima dos que já não exibem o mesmo pique dos jovens.

É claro que não são só os pais que sofrem com as transformações e que precisam reforçar a auto-estima, as amizades e o companheirismo do parceiro. Os filhos, muitas vezes, carecem de maturidade para assumir as conseqüências das novas experiências. "Em muitos adolescentes, há uma disparidade entre o corpo desenvolvido e o pensamento ainda pouco amadurecido sobre a sexualidade", explica Maria Alves. Os filhos precisam dos pais para dialogar, negociar um lugar para namorar, para esclarecer dúvidas sobre iniciação sexual e sobre especialistas que possam informá-los melhor sobre sua sexualidade. E para que os pais consigam se mostrar disponíveis e abertos para o diálogo com os filhos, é preciso encarar as reações em si mesmo trazidas junto com as "novidades"
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