terça-feira, 19 de abril de 2011

Virgem aos 54

Virgem aos 54
Nem me masturbar direito eu sei, diz a leitora

25/09/2009

"Cheguei aos meus 54 anos ainda virgem e já estou na menopausa há 4 anos. Ainda sonho, no entanto, encontrar alguem com quem viver um grande e profundo amor. Carrego em mim, porém, uma séria dúvida: poderei ter uma vida sexual normal? Minha experiência é pouquíssima, nada além de beijos e abraços, carícias pouco íntimas. Nunca deixei chegar aos finalmente e, para falar a verdade, acho que nem me masturbar direito eu sei. Mas ouço e tenho lido tanta coisa boa, que chego a pensar que, talvez ainda haja chance para mim?"
SPO

Resposta de Ana Fraiman

Ao achar as respostas, mudarão as perguntas, então. Claro que há chances. Sempre as há. Elas não obedecem às estatísticas, as chances esbarram nas pessoas quando elas se dispõem a encontrá-las, quando as pessoas cultivam um estado de espírito aberto para dizer sim à vida. Não só para relacionamentos amorosos e experiências sexuais, mas sim para amizades, passeios, prazeres vários, alegrias mil, por meio de atitudes simples e fáceis de adotar.

Brincar mais, por exemplo. Recuperar o riso solto, a bobeira, quer coisa mais gostosa do que rir a toa? E você se dá conta como uma pessoa, qualquer pessoa se torna cativante e atraente quando tem um riso fácil? Não estou falando de rir feito boba, mas de portar um riso solto, um sorriso gentil nos lábios, um olhar maroto ou uma boa gargalhada, mesmo! Já percebeu que tem gente que só ri amarelo, nem som não sai de sua boca ao dar risada? Tem um riso petrificado, que mais parece um esgar, tipo cara de dor de barriga, em vez de cara de contentamento?

Pois é, para aumentar as chances de que pessoas interessantes e cheias de vida, gente que valha a pena, se aproxime de você, torne-se você também, mais interessante.

Cursos de teatro, interpretação, contador de histórias, bio-dança, expressão corporal, dança de salão, são excelentes recursos para deixar o corpo mais macio, com mais ginga e a mente mais relaxada, com maior disposição para ter empatia com o outro e recuperar a delícia de dar mais risada. No teatro há um, curso sen-sa-cio-nal para recuperar a espontaneidade: o curso de Clown. É, de palhaço! É muito sério ser palhaço e fazer palhaçada. Divertir-se ao divertir os outros é uma das maiores doações que uma pessoa pode fazer de si. Mas é claro que nem todos têm coragem de começar por aí.

Enfim, um caminho muito bom para desenvolver a sexualidade e a sensualidade é a arte!

A música e o canto, principalmente. Uma pessoa precisa aprender a se expressar por meio de sua sensibilidade e se comunicar pelos sentidos. Não é só tocar seu corpo ou o corpo do outro, mas tocar o íntimo e deixar-se emocionar, entende? Isso desenvolve a arte de deixar-se levar por prazer, sem se sentir ameaçado nem ameaçar.
Um outro aspecto, que se pode desenvolver paralelamente é adquirir maior autoconhecimento: ver-se num grande espelho, nos mínimos detalhes. Colocar-se frente a um espelho, na intimidade de um quarto de dormir ou de vestir ou no banheiro, sem pressa. Não para se criticar, mas para perder inibição de se conhecer, de se tocar, de perceber como o próprio corpo é único e inteiro, que as mãos têm a ver com os pés, que tudo é um todo especial, uma morada querida, que nos é dada de empréstimo, do nascer ao morrer, para ser bem tratada e bem cuidada, apreciada, amada, sempre. As pessoas têm um relacionamento muito cruel consigo próprias frente ao espelho. Em geral só enxergam os defeitos.

Proponho simplesmente se ver, sem julgar. Enxergar-se com olhos de amor e de bondade. Com aceitação e apreço, antes de querer mudar e corrigir alguma coisa. Construir uma auto imagem real e ter uma excelente visão de seu próprio sexo, não só uma noção. Usar espelho de aumento se necessitar. Ver de perto. Vencer a vergonha. Tudo é sagrado em nosso corpo e merece o maior respeito. Senão, porque haveríamos de entregar nossas abominações e porcarias ao ser amado? Teríamos que escondê-las, não é verdade? Um amor verdadeiro não necessita de vergonhas, aliás, nem as tolera. Logo logo as suprime. Recato é bom. Vergonha, não. Antes de querer que outro alguém as descubra, as pessoas precisariam conhecer-se melhor e ser coerentes com aquilo em que acreditam.

Dependendo da religião de cada pessoa, masturbação é ou não é admissível. Procuro, simplesmente respeitar a crença de cada qual. Dentre os sexólogos e dentre os psicólogos, em nosso código de ética, é plenamente aceitável e recomendável a prática da masturbação, para o desenvolvimento psico-sexual e tomada de consciência de como propiciar-se prazer, independente de ter ou não uma companhia sexual. Mesmo uma mulher virgem pode obter muito prazer por meio do orgasmo clitoriano e sem introdução de qualquer objeto na canal vaginal.

De qualquer forma, é indicado que você consulte seu médico ou médica ginecologista, seja para fazer seus exames de rotina, seja para solicitar maiores orientações sobre como proceder com relação a tudo isso. Esse é um capítulo extenso e delicado, que deve começar por você e não pela pessoa que você haverá de conhecer e com quem haverá de se envolver. Caso o profissional consultado não seja bastante claro nas suas orientações, ou procure algum sexólogo (sexóloga) e faça suas perguntas de forma clara e explícita ou volte a nos escrever.

Para você saber, mulheres que têm prazer e orgasmo, têm a musculatura vaginal mais hígida e podem até mesmo evitar pequenas perdas urinárias ao rir, tossir, correr, evitar fazer cirurgias no assoalho pélvico que, com exercícios corretos bem podem ser corrigido. Você prestou atenção? Ter prazer e ter orgasmo é algo bem diferente. Há mulheres que sentem prazer, mas não chegam lá. O orgasmo é uma experiência de plenitude, física, emocional e espiritual. Há leituras fantásticas a esse respeito. Estude mais, leia bastante, converse a esse respeito.

Na maior parte das vezes, é necessário um bom tempo de convivência e experiência para começar a ter orgasmos. Envolve sentir muita confiança: em si mesma e no companheiro, também. Uma vagina, porém, que nunca foi penetrada, não pode e não deve sê-lo sem um devido preparo anterior, para torná-la mais receptiva, mais macia, mais flexível, paredes mais elásticas e resistentes, mais vascularizadas e musculatura mais desenvolvida, enfim. Isso não demora, mas é preciso bastante cuidado, excelentes noções de higiene e muito boa orientação inicial, se não a dor é muita, pois machucaria demais. E liberdade para falar de usar de prevenção contra DSVs - doenças sexualmente transmissíveis.

Há um número de pessoas que foram ou continuam casadas longos anos e parecem ter sido muito felizes. E inúmeros outros casais, homens e mulheres que foram casadas, sim, mas não sentiram aquele amor pelos seus cônjuges. Não chegaram a se sentir nem emocional nem sexualmente plenamente realizados e só alcançam isso depois, num segundo ou terceiro relacionamento, quando já mais amadurecidas e confiantes. Quem vê um casal andando de mãos dadas imagina que sempre se deram bem em tudo.

Mas não é bem assim. Conhece o ditado: quem vê cara não vê coração? Do ponto de vista psicológico ocorre um fenômeno muito especial: uma mulher pode ter tido filhos com seu marido, pode estar casada há mais de 30 anos, mas nunca ter-se entregue a ele de maneira total. Um dia, sabe-se lá quando ou como, dá-se a magia. Encontra-se com seu amor verdadeiro e se enlaçam: sua experiência amorosa será total e avassaladora. Sentir-se-á como uma noiva virgem, que em suas núpcias, se entrega ao seu homem de sempre: eu pertenço ao meu amado, meu amado me pertence.

Leia o Cântico dos Cânticos. Você e tantas outras mulheres e homens poderão se inspirar...

*Ana Fraiman é psicóloga formada em Psicologia Social, especialista nas áreas clínica e social, com mestrado pela USP e, atualmente, cursa doutorado na PUC de São Paulo na área de Antropologia. Possui vários livros publicados, é articulista e Diretora da APFraiman Consultoria, empresa pioneira em Programas de Preparação para a Aposentadoria e Pós-carreira. Para enviar sua dúvida, escreva um email para editora@maisde50.com.br
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