quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ronco forte é um sintoma de impotência sexual, diz estudo

Ronco forte é um sintoma de impotência sexual, diz estudo

30/08/2011 | 11h18min
O comerciante Fernando Barbosa, de 45 anos, vai para a cama todas as noites com a sua mulher, Patrícia, mas quase sempre acorda sozinho. Cansada de perder o sono no meio da madrugada por causa do ensurdecedor ronco de seu marido, ela migra para o quarto dos filhos do casal. Lá é desconfortável, admite, mas, pelo menos, ela adormece.
Fernando não faz barulho sozinho. Estima-se que 24% dos homens e 18% das mulheres de meia-idade roncam, segundo a Associação Brasileira do Sono. E o índice chega a 60% deles e 40% delas, depois dos 60 anos.

Pior: a maioria sofre de apneia, paradas breves e repetidas da respiração no sono, mal que, além de cansaço e irritação, causa doenças circulatórias, pode levar ao infarto, a falhas de memória e à impotência.

Num estudo recente com 30 mil pacientes, médicos da Universidade West Virginia, nos Estados Unidos, constataram que o grupo que dormia cinco horas ou menos tinha risco duas vezes maior de doenças cardiovasculares, em comparação com indivíduos que dormiam as horas recomendadas (cerca de sete). Ficar na cama além da conta também é ruim. Aqueles que dormiam nove horas ou mais aumentavam em 1,57 vezes o risco de sofrer do coração, sobretudo com a idade. E especialistas alertam que as pistas de apneia do sono aparecem ainda na infância.

- Os pais devem estar atentos a crianças que respiram pela boca - alerta a neurologista Andrea Bacelar, vice-presidente da Associação Brasileira do Sono. - Quanto mais cedo cuidar, menos chances de complicações.

Para os homens, porém, os médicos fazem um alerta importante: o ronco é um dos sinais mais frequentes de impotência.

Há poucos meses, o professor Evandro Carvalho, de 50 anos, ficou chateado ao ver a sua ereção falhar no ato sexual. Na ocasião, não deu muita importância e atribuiu o seu mau desempenho a um dia estressante na faculdade. Só que, recentemente, ele voltou a falhar em duas situações. Depois de consultar médicos, descobriu que seu desempenho sexual era causado pelas noites mal dormidas:

- Não sabia que o sono fragmentado poderia me deixar impotente.

Mas deixa sim, alerta a médica Dalva Poyares. A pesquisa Episono, do Instituto do Sono/Unifesp, sobre padrão e queixas de sono, mostrou que 17% dos homens se queixaram de disfunção erétil. E quanto mais distúrbios de sono e idade avançada, maior o risco. No estudo, os homens acima de 40 anos e com dificuldade de dormir tinham o dobro de risco de perda de potência sexual. Depois dos 50 anos, a chance quadruplica.

Entre os distúrbios do sono, a apneia é o mais grave. Isso porque a apneia altera a oxigenação e afeta a produção de óxido nítrico, essencial para a ereção. Quem sofre de apneia, desperta com frequência e tem pouca fase REM do sono, quando ocorrem os sonhos e as ereções são espontâneas. E essas ereções ajudam a manter o pênis funcionando bem. É como se fosse um treino, dizem médicos.

Mas apneia tem tratamento. O advogado Francisco Cruz, de 57 anos, acordava sobressaltado, engasgado e com falta de ar à noite. Com diagnóstico de apneia, ele procurou um especialista em sono. Sua qualidade vida melhorou muito, assim como o resultado de seus exames laboratoriais.

- Eu tinha a sensação de que morreria sufocado. Passava o dia cansado, sonolento, sem ânimo - conta Francisco, que já tentou de tudo para deixar de roncar, inclusive tiras adesivas dilatadoras de nariz e novidades como o spray antirronco, vendido livremente em farmácias.

Há quem tente resolver o problema de outra forma. Tradicionais redes de hotéis, como a Crowne Plaza, já testam quarto antirronco para casais. O ambiente tem paredes e camas com materiais que absorvem as altas frequências de sons, travesseiros que impedem que a pessoa se deite de costas e com recheios que criam campo magnético para "abrir as vias respiratórias". Tem também máquina de ruído branco, capaz de emitir frequências sonoras que neutralizam o som indesejado do roncador. A iniciativa de arquitetos é boa, dizem os médicos, mas o ronco segue com os hóspedes quando vão embora.

- Ronco e apneia são doenças e só mudar a arquitetura do quarto não resolve - diz Dalva Poyares, especialista em sono e do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

Outra queixa pouco frequente pode ser desencadeada por sono fragmentado: a sexomnia, ou seja, o hábito de querer fazer sexo dormindo. E o maior problema é que o sonâmbulo nunca se lembra do assédio sexual, o que inclusive pode ter implicações jurídicas (na separação de um casal, por exemplo).

Há também aqueles que se masturbam dormindo. E o número de casos de sexomnia tende a crescer, já que período de sono na população está diminuindo. No Brasil não há estimativa, e quem acha que sofre do problema se sente constrangido em buscar ajuda. No tratamento, são usados medicamentos.

- Ainda desconhecemos a causa da sexomnia, mas é parente do sonambulismo - diz a doutora Dalva.

Segundo especialistas, a quantidade de sono necessária é característica individual, determinada geneticamente. Existe um grupo menor que tem descanso e sono adequados com apenas cinco horas, assim como há indivíduos que precisam de nove horas de sono. Mas a maior parte das pessoas fica bem com sete a oito horas de sono por noite.

A solução para o ronco e apneia dependerá de cada caso. Até porque essas queixas podem ter várias causas, como estreitamento de vias aéreas, relaxamento da musculatura da faringe, hipertrofia de amígdalas, palato alongado, língua volumosa, pescoço largo, queixo e maxila pequenos e excesso de peso.

- Nem todo roncador tem apneia. E a única maneira de esclarecer isto é o exame de polissonografia, que avalia a função respiratória do indivíduo enquanto ele dorme - explica a pneumologista Luciana Palombini, do Instituto do Sono, em São Paulo.

Só depois da consulta, dos resultados dos exames laboratoriais (o mau funcionamento da tireoide e alterações hormonais, por exemplo, causam problemas no sono, lembra a doutora Andrea Bacelar) e da polissonografia pode-se traçar a estratégia de tratamento. Uma opção é o uso de aparelho bucal, em casos leves. Com essa prótese, o ar passa pela garganta mais aberta, e ainda coloca a mandíbula mais à frente, aliviando o ronco.

A medida mais eficaz em casos graves é o uso de máscara nasal durante o sono, as CPAP (sigla em inglês de pressão positiva contínua nas vias aéreas), que aumenta o fluxo de ar, melhorando a respiração. Antes, esses aparelhos eram grandes e desconfortáveis; hoje moldam-se ao rosto e cabem na palma da mão.

Em situações específicas, indica-se cirurgia. Como a moderna faringoplastia, que abre as vias aéreas, impedindo o fechamento da garganta. Apesar de eficaz, não se aplica a todos os casos.

Há ainda os sprays antirronco, compostos de óleos vegetais e hidratantes, que lubrificam pregas vocais e a garganta, mas os médicos duvidam da eficácia.

- Não indico o spray para ninguém, mesmo que diminua o atrito na garganta e o ronco. Ainda assim, o individuo pode ter apneias - comenta Luciana

Na tentativa de acabar com o ronco e a apneia, médicos pesquisam uma pílula para aliviar o estreitamento das vias aéreas, ainda sem muito sucesso. Nos testes em 39 voluntários, a pílula BGC20-0166, que atua melhorando o fluxo de ar, aliviou bastante o sintoma de apneia, mas novos estudos estão sendo realizados para medir a eficácia desse medicamento.

O Globo

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