sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Libido em baixa

Libido em baixa
por Marcella Brum
Tem dias em que não dá vontade nem de fazer sexo. Tudo bem, até aí não existe nada de anormal. Só que algumas pessoas levam os problemas para a cama e deixam o desejo sexual se transformar numa vaga lembrança do passado.
Um dia é o cansaço. No outro, aparece a dor de cabeça. Até o fim da semana, desfilam ainda pelo repertório de desculpas o sono acumulado, a cólica que não passa e até o calor, que não dá ânimo nem pra se mexer. Mas é assim mesmo, tem dias que nem um bom sexo faz a nossa cabeça. O que não significa nada de anormal, já que somos humanos e é difícil se manter inabalável em meio à alta dos juros, ao preço dos combustíveis e às tarifas telefônicas. Só que algumas pessoas, mais precisamente as que se identificam com o comecinho dessa matéria, acabam levando pra cama apenas os problemas, e deixando o desejo sexual se transformar numa vaga lembrança do passado.

Baixa libido significa falta ou diminuição do desejo sexual, que é composto basicamente por fatores biológicos e psicológicos. Em outras espécies de animais, os aspectos biológicos são mais importantes – pois na selva ninguém paga conta no fim do mês e nem pega trânsito na hora do rush. Já na espécie humana, os inúmeros aspectos psicológicos acabam levando vantagem em cima da natureza. Ou seja, o nosso plus, que é o desenvolvimento social e cultural, se torna responsável direto pela nossa expressão do desejo sexual. Portanto, uma pessoa com baixo desejo não procura por sexo, corta o erotismo de seu dicionário e evita até tocar no assunto.

Geralmente, o sexo é jogado para escanteio quando as pessoas se tornam insaciáveis de complicações. O jornalista Marcos Coelho se considera um exemplo dessa falta de gerenciamento. “Normalmente, eu fico sem tesão quando estou muito focado em algo que estou fazendo ou que vai acontecer. Nessas ocasiões, acabo abstraindo o sexo da minha vida”, conta ele.

Ficar emocionalmente broxa pode acontecer com qualquer um. Mas, sem dúvida, quanto mais a idade vai passando, mais vamos tendo conteúdo para ficar com macaquinhos no sótão. “Com o tempo, a falta de desejo é mais evidente. Pois os problemas não administrados aumentam com a idade, somam-se a outros e, por conseqüência, pioram as possibilidades sexuais”, afirma Oswaldo Rodrigues Jr. Com a administradora de empresas Renata Lisboa foi assim: a insatisfação não solucionada acabou se transformando numa enorme bola de neve, que passou por cima da sua libido com tudo. “Eu tinha complexo de gordinha. Então, fazia de tudo (sem conseguir cumprir a metade) para emagrecer. Como não via resultados, aquilo me gerava uma ansiedade, um nervosismo, que eu acabava descontando em tudo: na comida, no meu marido, no meu filho. Ele queria transar e eu não tinha o menor ânimo porque estava sempre me achando feia, não deixava nem ele me ver sem roupa”, conta Renata, lembrando que o relacionamento começou a degringolar por causa da sua aversão ao contato físico com o marido. “Ele começou a deixar pra lá, chegava cada vez mais tarde e estava se desinteressando nitidamente por mim. Foi quando eu procurei ajuda psicológica. O casamento acabou, mas eu me recuperei, emagreci, e hoje, levo uma sexual bem ativa até, afinal, estou solteira e sabe como é...”, diz ela.

E por ironia do destino – já que é uma questão de ordem administrativa – nós mulheres, que cuidamos da casa, dos filhos e da carreira, somos as mais propensas à falta de desejo sexual. “A sexualidade feminina está muito vinculada ao seu estado psicológico. A mulher precisa de estímulos preliminares mais demorados e intensos, precisa estar mais acessível à sexualidade para poder exercê-la”, diz a sexóloga Glene Faria, acrescentando que a menopausa também é uma fase muito delicada para a sexualidade feminina. “Este é um período de transição, de conflitos psicológicos e de questionamento da mulher. Então, pode ocorrer uma incidência maior de mulheres com diminuição do desejo de fazer sexo”, afirma ela.

O motivo para a inibição do desejo sexual afetar mais as mulheres se encontra no machismo puro que a sociedade cultiva. Ou seja, a mulher é educada para expressar menos desejo e mais romantismo, e ao homem só resta fazer sexo – com ou sem vontade. “É uma obrigação social do homem, portanto eles nem sempre percebem se falta desejo. Eles pensam que precisam fazer sexo, julgam ter desejo e assim acabam desenvolvendo problemas de ereção”, descreve Oswaldo Rodrigues Jr. E a falta de desejo, além do racionamento de sexo, pode acarretar diversos outros problemas de ordem emocional, social e até profissional. Então, como na maioria das vezes, os fatores responsáveis por essa escassez são os psicológicos, o reencontro com a sexualidade plena pode acontecer por meio da terapia sexual. “Ela ajuda na compreensão e descoberta, ou redescoberta, da sexualidade individual e do casal”, conclui Glene Faria.

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