A dificuldade de superar um problema sexual
Psic. Oswaldo M. Rodrigues Jr. – (CRP 06/20610) psicoterapeuta sexual do Instituto Paulista de Sexualidade (inpasex.com.br), autor do livro “Psicologia e sexualidade” (Ed. Medsi, 1995) e “Problemas sexuais” (Ed. Biblioteca 24x7, 2008); palestrante em psicologia e sexualidade;
Atendo pessoas com queixas sexuais desde 1984. São problemas e problemas, a maior parte do tempo não é apenas um problema que a pessoa traz, é uma soma de vários problemas sexuais associados a questões de relacionamento de casal e de problemas emocionais.
As pessoas chegam a uma primeira consulta com queixa sexual com muito sofrimento. O tempo de problema sexual varia muito, desde uma ou duas semanas a até 20 anos (ou mais).
Muitos nem querem que as pessoas com as quais fazem sexo saibam ou participem do tratamento... é... uma forma infantilizada de “enfrentar” esses problemas. Alguns ainda chegam nesta primeira consulta acreditando que sairão destes 50 minutos com a solução... já escutei de um paciente que ele viera para a consulta com tanta certeza de que sairia curado que marcara um encontro sexual duas horas depois da consulta!
Todos que chegam a esta primeira consulta querem mudar esta condição... querem, mas muitas vezes não querem se modificar!
E este é o problema maior!
Um dos defeitos de enfrentamento da realidade é o mecanismo de crer que o mundo resolverá nossos problemas. Este mecanismo produziu várias instituições sociais em nossa cultura. A igreja, a medicina, os governos públicos... são apenas algumas destas instituições. Nestas situações parece que basta transferir a preocupação que nos faz sofrer. Vou à igreja, rezo, prometo, sou desculpado, saio feliz. Vou ao médico mostro meu sofrimento, ele me dá um remédio... pronto, nem tive que fazer muita coisa, só tomar o remédio, e quando passar o sofrimento posso parar o remédio (mesmo que ainda tenha o restante da caixa para tomar, de acordo com o médico...). Tem algo de errado em minha cidade, é culpa do governo!
Assim vários pacientes nos chegam semanalmente dizendo que querem solucionar um problema sexual.
A psicoterapia é uma forma de tratarmos problemas psicológicos (emocionais, de relacionamento de casal ou interpessoal...). Nesta forma de tratamento precisamos que as pessoas se envolvam, tenham ações a cada semana.
É aqui que vemos estas pessoas acostumadas aos mecanismos sociais que solucionam seus problemas sem que elas precisem fazer algo. Estas pessoas acham que basta vir às consultas, contar, ouvir... Alguns até mostram esta compreensão quando falam que vem para “conversar”. Estas pessoas não compreenderam, ainda, o que é a psicoterapia. Precisam ser ensinadas a respeito.
A psicoterapia não é um tratamento no qual basta a pessoa se apresentar no horário da consulta.
A psicoterapia exige comprometimento, envolvimento.
A semana toda faz parte da psicoterapia.
A psicoterapia dos problemas sexuais inclui também atividades a serem desenvolvidas. Muitos gostam de chamar de lição de casa, à moda da escola. Não estas tarefas para serem executadas fora do consultório não são semelhantes aos processos pedagógicos que ocorrem nas escolas. E vários pacientes precisarão de algum tempo para compreenderem isso... e possivelmente com sofrimento acontecendo.
A diferença da psicoterapia para com os processos pedagógicos incluem a necessidade do sujeito ser dono da ação, e não apenas reprodutor da ordem dada.
Aqui entra uma parte da dificuldade em mudar...
Estes pacientes voltam a cada semana e contam o que fizerem e assim consideram que estão mudando. É bem verdade para alguns... Sim, o processo pedagógico também funciona. Funcionou durante todo o processo escolar...
Mas estes pacientes tem uma crença interior de que basta frequentar as consultas para que o problema vá embora!
E isto sempre me preocupou.
Eu, psicólogo, compreendi, há muito tempo, que meu paciente precisa compreender que ele é o dono da ação, e o fazer servirá para que ele se apodere do que faz e dos significados que estas ações tem em sua vida. Assim superará o problema sexual e saberá como agir no futuro quando e se ocorrer novamente uma dificuldade sexual parecida.
E gora mesmo pensava num paciente... ele vem a consultas há 3 meses, semanalmente, salvo um par de vezes em que acordo muito gripado e aquela semana que saiu de férias com a namorada... Este rapaz com perto de 30 anos foi ao longo das semanas recebendo tarefas parciais para executar. Como é de se esperar, ao longo de 3 a 5 semanas existiu um alívio de sintomas, e ele se mostrou feliz. Claro que procuro mostrar que era esperado este alívio de sintomas nesta fase da psicoterapia... mas nem sempre todos os pacientes compreendem esta anotação. Conjuntamente ao alívio, as tarefas não eram cumpridas. O alívio provava que “bastava” frequentar as sessões de psicoterapia. Então, mais 3 ou 4 consultas inicia-se a fase de lamentações: “não está funcionando, eu nem tenho vontade de fazer os exercícios, pois não adianta”. Fazer os “exercícios” em parte é uma afirmação correta... mas ele tampouco fez os “exercícios”, assim as respostas às perguntas: o que lhe passa pela caneca nestas horas? como se sente? Não podiam ser respondidas. Em verdade só podia responder estas perguntas sobre não ter feito os exercícios...
E mesmo assim estes pacientes demoram-se para compreender que precisam modificar a atitude. Não pensem os leitores que os psicoterapeutas não falam a estes pacientes que eles não estão cumprindo o tratamento, que não apontamos, semanalmente o fato. O difícil para estas pessoas é assumir que precisam aprender a mudar e mudar é algo que eles não desejam e ainda não aprenderam a querer, voluntariamente, a mudança.
A crença de que o mundo externo lhe resolverá o problema é algo que exige um tempo para ser mudada, e para muitas pessoas isso nunca ocorrerá...
Colocar no outro a responsabilidade de solucionar nossos problemas é um lugar comum em nossa cultura... e muito difícil de ser mudado.
E estou aqui pensando o que vou dizer para este paciente, que novamente tentou neste último fim de semana, fazer exatamente aquilo que ele já sabia que não conseguiria fazer... e mesmo assim tentou, como se a semana que passara fora o suficiente para lhe mudar as atitudes. Pacientemente tenho que auxiliar a ele que desenvolva um caminho para que ele tenha consciência do que ocorre e de que ele está produzindo, semanalmente, o problema sexual.
Assim, mudar não é fácil, pois se o fosse não seria necessário auxílio externo!
Para cada um de nós deveria permanecer a mensagem: atenção a nossas formas de encarar o mundo. Se pensarmos que os problemas se resolverão... que os outros farão alguma coisa e nós não precisaremos fazer nada... cuidado... sofrimentos ocorrerão!
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