terça-feira, 9 de agosto de 2011

Questões do Amor: o machão e o sexo

Questões do Amor: o machão e o sexo
Brenda, professora de 32 anos, se separou do marido após oito anos de relação. Agora, solteira, ela estava decidida a viver um sexo intenso, de muita entrega, o que não ocorria no seu casamento. Conheceu Luiz e, numa das primeiras saídas, foram para um motel. Voltou desanimada. “Logo depois que ele gozou, esqueceu que eu existia. Em vez de se ligar em mim, ficou um tempão contemplando a camisinha com seu sêmen. Olhava orgulhoso e ficava falando sozinho, elogiando a quantidade de sêmen. Me senti péssima. Se pudesse teria largado ele lá e ido embora.”


É difícil de acreditar, mas a sexualidade típica do machão é assim mesmo: impessoal, estereotipada, limitada. Cumprir o papel de macho é o principal objetivo. Trocar afeto e prazer com a parceira é secundário. Importante mesmo é o pênis ficar ereto, bem rígido e ejacular bastante. A mulher, para tal homem, só é interessante como meio de lhe proporcionar esse prazer que, na realidade, não tem nada a ver com prazer sexual.

Durante muito tempo a visão que se teve da mulher, e na qual ela também acreditou, era assim: frágil, desamparada, necessitando desesperadamente encontrar um homem que lhe desse amor e proteção e, mais do que tudo, um significado para a sua vida. E quando começou o movimento de emancipação feminina, os homens ainda acreditavam que não tinham nada do que se libertar, desprezando o fato de que o sistema patriarcal oprime ambos os sexos, e estar submetido ao mito da masculinidade não é nada fácil.
A maioria dos homens ainda persegue o ideal masculino – força, ousadia, sucesso, poder, nunca falhar –, mas eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos. A questão é que desde crianças eles são ensinados a desprezar as emoções delicadas e a controlar os sentimentos. Demonstrar ternura e se entregar relaxado à troca de prazer sexual com a parceira são atitudes difíceis; perder o controle ou falhar é uma ameaça constante. O processo de socialização que transforma os meninos em homens “machos” impede a espontaneidade na relação com as mulheres. É impossível ser amoroso quando se é “travado” emocionalmente.

Nos papos com os amigos eles aprendem a contar vantagens, suas conquistas sexuais e detalhes engraçados sobre as transas – muitas vezes desvalorizando as mulheres. Se os fatos correspondem ou não à realidade é o que menos importa. O sexo passa a ser um esporte, um jogo em que se disputa a dominação da mulher. Esse roteiro "homem-caçador"/ "mulher-presa" causa sérios prejuízos à sexualidade masculina. Os homens são levados a organizar sua energia e percepção em torno do desempenho e, assim, se transformam em máquinas de fazer sexo, preocupados apenas em ‘marcar pontos’ e ter ereções.

Apesar das aparências em contrário, na vida adulta a sexualidade masculina continua sendo uma experiência ansiosa e limitada. Poucos homens conseguem conhecer a intimidade emocional com a mulher, em vez de somente a sexual. Além disso, os estereótipos tradicionais de masculinidade inibem a capacidade de prazer sexual do homem. Na lenda de “Don Juan” e nas “Memórias de Casanova” isso fica claro. A motivação primeira não é a troca de afeto e prazer com as mulheres, mas sim o poder e o controle sobre elas, sendo as conquistas admiradas e invejadas por outros homens.

Pesquisas mostram que os homens que definem as relações humanas em termos de papéis rígidos – ‘masculino-superior’ e ‘feminino-inferior’ – ou que definem sua identidade masculina em termos de controle, violência e repressão dos afetos apresentam, em muitos casos, um quadro de deterioração da sexualidade.
Na década de 1970, um estudo sobre extremistas políticos alemães da direita e da esquerda (inclusive membros do grupo terrorista alemão de esquerda Baaden- Meinhof) constatou que esses homens apresentavam problemas de disfunção sexual, inclusive incapacidade de atingir o orgasmo.

Num outro estudo, sobre a recusa das mulheres em continuar subordinadas, concluiu-se que apenas 5% a 10% dos homens chegam perto de aceitar as mulheres como iguais, enquanto os demais expressam seus sentimentos de raiva, medo e inveja por meio de uma hostilidade evidente ou dissimulada. E o que os homens consideraram mais ameaçador nas mulheres é a combinação de competência e sexualidade.

É inegável que a masculinidade está em crise. Nos últimos 30 anos foi constatado nos homens o aumento da depressão psicológica e, em vários países, registram-se doenças do homem esgotado. Todo o esforço exigido deles para que sejam considerados "homens de verdade" provoca angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas.

Mas como resolver o impasse entre a proibição social de expressar sentimentos considerados femininos e a crítica cada vez mais acirrada ao homem machista? Como os homens podem recuperar sua autonomia? Talvez o jeito seja se unir às mulheres e, examinando o mito da masculinidade, pensar em sua própria saída do patriarcado, repudiando essa masculinidade como natural e desejável. Nem todos aceitam o roteiro do macho e cada vez mais homens em todo o mundo tomam consciência da desvantagem desse papel e empreendem a desconstrução e a reconstrução da masculinidade.

Quem sabe se dessa forma as relações afetivas e sexuais não se tornem mais plenas? Talvez o sexo insensível e considerado viril passe a ser coisa do passado e ninguém mais veja graça na anedota que diz que nenhum dos parceiros sente prazer na primeira experiência sexual, mas que o menino atinge o orgasmo no dia seguinte... quando conta a seus amigos.

IG
http://vivasexo.blogspot.com/2011/07/questoes-do-amor-o-machao-e-o-sexo.html

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