domingo, 7 de agosto de 2011

Ainda existem tabus sexuais em pleno século 21?

Ainda existem tabus sexuais em pleno século 21?
12 ótimas respostas
(matéria de Patrícia Zaidan, publicada pela revista Cláudia, edição de março de 2005, http://claudia.abril.com.br/livre/edicoes/522/index.shtml)


O Brasil é um dos países mais identificados com as liberdades sexuais. Mas será que a fama corresponde mesmo à realidade? Decidimos investigar o assunto, analisando até que ponto já nos livramos de preconceitos, temores e vergonhas sem sentido, capazes de roubar alegrias e gratificações eróticas mais do que merecidas. Nessa tarefa, contamos com a ajuda de três especialistas no assunto: eles respondem a questões decisivas e esclarecem o papel positivo que alguns tabus exercem, protegendo-nos de situações que ainda não conseguimos gerenciar. Os experts são: Oswaldo Rodrigues Jr., psicólogo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Inadequação Sexual (Abeis); Ana Canosa, psicóloga, terapeuta sexual e diretora da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (Sbrash); e Maria Helena Brandão Vilela, diretora do Centro de Estudos da Sexualidade Humana do Instituto Kaplan e consultora de CLAUDIA.

1. A virgindade ainda é valorizada?
O tabu da virgindade foi derrubado, é algo sem volta. As exceções ficam restritas aos grupos religiosos ultra-conservadores. O sexo entra mais cedo na vida dos jovens. Tanto nas cidades alicerçadas na produção rural - onde não há shoppings ou cinemas e a relação íntima é uma das poucas formas de diversão - quanto nos grandes centros, a média de iniciação sexual das meninas é 15 anos. A explicação pode estar no fato de que a mulher, ao entrar no mercado de trabalho, passou a desenvolver outros papéis. Se não se casar, ela pode ter um lugar respeitado na sociedade em razão da vida profissional. Antes, valia a pena segurar o desejo sexual, pois a ela só cabia ser esposa e mãe. Se não conquistasse o grande amor, ficaria solteira. Assim, guardava o que acreditava ser o melhor de si - a pureza e a submissão - para depositar nas mãos do amado. Hoje, uma garota tem consciência de que, se não conseguir o parceiro que escolheu, outros virão. O surgimento do teste de DNA também colaborou. O homem não precisa mais do certificado de castidade para acreditar que os filhos surgidos no casamento são de fato dele. Na dúvida, recorre ao teste de paternidade. Ana Canosa e Maria Helena Vilela

2. O sexo anal foi incorporado normalmente pelos casais?
Não. Penetrar o ânus da mulher faz parte dos desejos masculinos mais freqüentes, porém ainda é um tabu. Mas ele tende a ser derrubado em breve, já que muitas informações sobre o tema têm sido divulgadas. Elas afastam idéias errôneas, como a de que a prática provoca dor excessiva ou leva à perda do controle do esfíncter. Para evitar incômodos e usufruir o prazer que o ato é capaz de proporcionar, o casal precisa esquecer a pressa. Numa primeira etapa, a mulher pode, após aplicar lubrificante, pedir ao parceiro para introduzir apenas o dedo, devagar. Em outro encontro, ele colocaria o pênis em contato com o ânus, sem pensar ainda em penetração. Depois de algumas sessões desse tipo, as chances de aproveitar a relação aumentam muito. Ana Canosa

3. Hábitos como freqüentar um clube de suingue ou fazer sexo a três em casa são tidos como perversão?
Ainda há um olhar assustado e reticente diante dessas práticas. Um fator, porém, está contribuindo para diminuir o tabu: a compreensão de que, se desejadas com a mesma intensidade pelo homem e pela mulher, elas não prejudicam o relacionamento. Afinal, os parceiros incrementam, unidos, sua vida sexual. Só se pode falar em perversão quando ambos não conseguem obter prazer de outra forma. O fato é que cada dia as pessoas procuram mais as casas de suingue, onde ocorrem não apenas trocas de casais e sexo a três mas também o voyeurismo. Muitas vezes, os casais freqüentam esses locais apenas como observadores: excitados, voltam para transar em casa. Quando se entregam às práticas, os problemas só costumam aparecer se não se preparam para a experiência ou não respeitam as regras estabelecidas antes de entrar no jogo, como, digamos, não beijar na boca ou não dar o telefone a terceiros. Ana Canosa

4. Qual é o maior dos tabus?
Havendo ou não penetração, o incesto é o maior tabu da humanidade. Poucas sociedades admitem a relação intra-familiar, mesmo que os envolvidos não tenham laços consangüíneos, caso de madrasta e enteado. Mas, sob o ponto de vista erótico, o fato de a irmã se excitar ao ver o irmão tomando banho não configura uma doença. Perceber o despertar de uma sensação prazerosa, ainda que diante de um familiar, não é o fim do mundo. O problema é não conseguir controlar essa sensação e partir para o ato sexual. Isso se agrava ao ocorrer uma gravidez. A família deve ajudar a criança que se coloca de forma muito sexualizada diante dos irmãos ou dos pais, evitando práticas como deitar na mesma cama ou andar nua pela casa. Proporcionar o contato com outras crianças também colabora. Ana Canosa

5. Millôr Fernandes disse: "De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha que a abstinência". Não admitimos a vida sem sexo?
Temos um discurso, reforçado pela mídia, que garante que o sexo é essencial para a felicidade. Mas ele não é fundamental. Para o equilíbrio, é preciso ter saúde física, mental e social. Muitas pessoas podem se realizar sem sexo. Do contrário, não haveria padre, freira, viúvo ou celibatário feliz. Eles podem encontrar bem-estar se decidirem lidar com o sexo como algo do segundo plano e se sublimarem a energia sexual, canalizando-a para o crescimento espiritual ou intelectual. Para tanto, é necessário maturidade. Oswaldo Rodrigues Jr.

6. Hoje as mulheres se masturbam sem culpa?
Na tradição judaico-cristã, a masturbação era vista como perda de esperma e da possibilidade reprodutiva. Em 1620, ao escrever um livro médico, o ex-padre suíço Tissot chegou a descrevê-la como algo que podia causar a morte. Essa versão reverberou por séculos, embora não tenha impedido que os homens se dedicassem à prática às escondidas. Em 1953, o cientista Alfred Kinsey, da Universidade de Indiana, publicou uma pesquisa atestando que as mulheres também se masturbavam. Em 1992, o papa afirmou que a masturbação deixava de ser um pecado mortal para ser um pecado menor, aceitável em situações especiais - caso de presos e homossexuais, que, ao se manipularem, evitavam "um mal maior". Mesmo com as flexibilizações e com as descobertas de que o auto-conhecimento físico colabora com a saúde sexual, a nossa cultura ainda não vê com bons olhos a menina que se toca. As conseqüências da condenação, muitas vezes, são a anorgasmia (falta de prazer sexual) e os problemas relacionais. A mulher que não explorou seus órgãos na adolescência pode demorar de dois a cinco anos para aprender a ter prazer. Oswaldo Rodrigues Jr.

7. Já aceitamos as escapadas da mulher casada?
As chances de conhecer homens especiais fora de casa são maiores hoje. Num caso extraconjugal, a mulher, não raro, sabe separar as coisas para que o desejo fortuito não atrapalhe o casamento. Porém, ela ainda revela o fato a uma amiga como quem acaba de praticar algo proibido e sofre por não corresponder ao que o marido espera. Então, termina o caso com receio da condenação por parte dele e da sociedade. A cobrança de fidelidade é mais severa sobre ela. Maria Helena Vilela

8. A visita a sex shops e as compras de acessórios com o objetivo de esquentar o casamento são comuns?
A brasileira prefere ir à sex shop com um grupo de amigas ou de gays. Mas faz isso como uma brincadeira. Sozinha, ela não entra. O que não quer dizer que deixe de comprar. Ao contrário. A cada ano as lojas eróticas na internet aumentam as vendas de acessórios, filmes e livros excitantes, e a principal clientela é feminina. Como a mulher aprendeu a se dar prazer, não tem preconceito quanto a escolher principalmente vibradores que estimulam o clitóris. Mas rejeita a idéia de levá-los para desfrutar com o marido. Ela teme ser julgada uma ninfomaníaca. Também não quer que o parceiro se sinta menosprezado, imaginando que só o artifício pode satisfazê-la. Por isso, guarda o aparelho e usa quando ele não está em casa. Maria Helena Vilela

9. Sexo no primeiro encontro atrapalha os planos da mulher que quer se casar?
Se ela saiu para se divertir, vai propor um motel sem se preocupar com o que ele vai pensar. Porém, se planeja um namoro firme, inventará desculpas. O preconceito está na cabeça feminina, que preserva o ideal romântico desvinculado do sexo. Mesmo se sentindo autônoma, acredita que passando a boa impressão" pode se tornar uma excelente candidata ao casamento. Maria Helena Vilela

10. O sexo na velhice ainda é objeto de censura?
Até os anos 50, o sexo era associado apenas à reprodução. A sociedade, então, interditava o idoso com a sentença: "Se ele não pode mais reproduzir, faz sexo por sem-vergonhice". O peso da condenação era ainda maior sobre as mulheres. O homem contava com a complacência ao arranjar uma jovem capaz de engravidar. Felizmente, há uma tendência de mudança. Os jovens já sabem que vão viver mais tempo que os avós e que precisam se preparar para ter qualidade de vida - e isso inclui o sexo - aos 70 e 80 anos. Oswaldo Rodrigues Jr

11. A mulher aprendeu a lidar com certas fantasias do homem, como manter relação vestido de mulher?
Ela já se dispõe a realizar muitas das fantasias masculinas. Mas essa é muito provável que não aceite. Tende a interpretar o fato como uma revelação da orientação sexual do parceiro. Ou seja, vai imaginar que, no fundo, ele é gay. O mesmo acontece quando ele pede carícias no ânus. Por uma distorção cultural, acreditamos que só os homossexuais têm prazer na região anal. Mas isso não é verdade: a área é altamente excitável, e tanto homens como mulheres podem experimentar sensações prazerosas ao serem tocados ali. Maria Helena Vilela

12. A troca de carícias entre pessoas do mesmo sexo ainda é associada pela sociedade à homossexualidade?
Não mais. Presenciei uma linda mulher revelando às amigas que ela havia se encontrado com uma colega numa festa. As duas se sentiram atraídas, se beijaram, se tocaram e os contatos pararam por aí. Ambas têm parceiros masculinos e não mudaram a orientação sexual por causa da experiência. Também estão se tornando comuns os movimentos de adolescentes que dão "selinho" (beijo nos lábios) nas baladas para demonstrar afeto, sem que isso desencadeie desejos. As meninas adotam o comportamento sem culpa, como forma de auto-afirmação diante dos meninos, que são mais introvertidos e menos decididos do que elas. Ana Canosa

http://www.paracrescer.com.br/pasta_qualidade/pg_qualidade2/textos/sexualidade_09.htm

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