Amor ou sexo?
Pesquisa americana promete romper relações entre o amor e o sexo. No Brasil, especialistas duvidam
PorIlana Ramos
25/07/2011
Amor e sexo devem, necessariamente, caminhar juntos? Os cientistas dizem que não. Pesquisadores concluíram que amor e sexo existem no cérebro independentemente um do outro e que, no quesito atividade cerebral, quem ganha é o amor. Embora os jornais científicos norte americanos tenham divulgado o resultado do trabalho como a quebra definitiva da suposta ligação que existe entre o amor e o sexo, especialista brasileiro discorda e rebate: “o trabalho não testou isso”.
Em um estudo publicado no americano Journal of Neurophysiology, pesquisadores identificaram que amor e sexo ativam duas áreas distintas do cérebro. O estudo envolveu 17 jovens homens e mulheres, todos tinham se apaixonado recentemente. Eles responderam questionários e viram fotografias enquanto seus cérebros estavam conectados a uma máquina de Ressonância Magnética Funcional (fMRI, sigla em inglês). Eles encontraram várias áreas do cérebro onde a força da atividade neural mudava com o sentimento romântico e que o romance ativava partes do cérebro ricas em dopamina, neurotransmissor que afeta as emoções. Mas e o sexo?
Textos jornalísticos de revistas científicas americanas constataram o maior poder do amor sobre o sexo a partir dessa pesquisa, mas o PhD em Neurofisiologia do Comportamento e docente aposentado do Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP Renato M.E. Sabbatini acha que não é bem assim. “Embora os textos jornalísticos falem sobre uma ‘dominação’ do sentimento de amor romântico sobre o sexo nas áreas cerebrais onde ocorrem ativações dos neurônios (células cerebrais responsáveis pelas emoções), na verdade o trabalho não testou isso. Não foram apresentados estímulos sexuais simultaneamente aos de paixão romântica (no caso, induzidos pela fotografia da pessoa amada) e, portanto, não dá para afirmar que essa dominância exista. Somente o estímulo romântico estava sendo apresentado”, diz.
Embora as reportagens a respeito da pesquisa afirmem que diferentes áreas cerebrais são ativadas diante de estímulos amorosos e sexuais, a pesquisa não atesta isso. “O fato de ter áreas cerebrais distintas para o sexo e amor nem sequer é afirmado na pesquisa. Na realidade, elas são totalmente interconectadas. Pode existir amor sem sexo e sexo sem amor, e isso significa neurocientificamente apenas que sistemas cerebrais motivacionais estão funcionando de forma diferente. E, não existem dúvidas de que o componente sexual é o mais importante da paixão romântica”, observa Renato.
Quer dizer que, diferente do afirmado nos textos publicados sobre o estudo, o amor não “ganha” do sexo? Para Sabbatini, o resultado depende. “Evidentemente existem grandes diferenças de gênero, e entre indivíduos, também. Sabe-se que homens e mulheres apresentam diferenças culturais e biológicas quanto a essa distinção. A psicologia evolucionista propõe que, ao ser o objetivo biológico da mulher a concepção e criação da prole, ela favorece sentimentos que são mais duradouros, e mantêm uma ligação emocional com o homem que é o provedor da família (em outras palavras, modernamente, o casamento), enquanto para o macho da espécie o mais importante seria a atividade sexual. Mas até mesmo essas aparentes verdades biológicas podem sofrer forte influência da cultura, e existem homens que valorizam mais o amor do que o sexo, e mulheres que valorizam mais o sexo do que o amor”, conclui.
http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2.asp?conteudo_id=8360
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