Compulsão por sexo aumenta chances de trair o parceiro
01/08/2011 | 09h04min
Para entender os caminhos que levam brasileiros a sofrer de compulsão sexual, o Hospital das Clínicas de São Paulo inicia um estudo em larga escala sobre o distúrbio, recrutando pessoas a partir dos 18 anos.
A compulsão, pouco conhecida, se caracteriza pela busca incessante de satisfazer as vontades sexuais, surgidas em excesso. Por ser compulsivo, o paciente costuma perder o controle de suas ações e causar transtornos tanto para si, quando para pessoas próximas. E pior: tende a trair mais.
Segundo os especialistas consultados pelo R7, o compulsivo sexual tende a perder a noção do que é certo ou errado e acaba por "atravessar fronteiras morais" para conseguir esse objetivo.
De acordo com a psicóloga Cida Lessa, especialista em sexualidade humana, a compulsão pode ser considerada uma patologia que deve ser tratada com remédios.
- Além da terapia, temos também passagens pelo psiquiatra e até medicamentos, dependendo do nível da compulsão. Tratamento em conjunto é fundamental.
Traição acaba com casamento
Ela dá como exemplo o ocorrido com um atual paciente seu, que sofre do problema. Ainda casado, ele apresentava um comportamento compulsivo, que acabou por minar o próprio relacionamento.
Sua mulher descobriu que, desesperado por sexo, o marido procurava outras parceiras pela internet, em sites de encontros. Ele não conseguiu reconquistá-la, mesmo depois de detectado o problema e iniciado o tratamento.
- A traição é muito comum em casos de compulsão sexual. As pessoas tendem a se expor muito mais e chegam a perder o medo de aventurar-se com outras pessoas, mesmo tendo um relacionamento fixo e estável.
Internet é fonte de prazer e culpa
Segundo o responsável pela pesquisa do HC, o psiquiatra Marco de Tubino Scanavino, que está recrutando homens e mulheres alfabetizados, com ou sem impulso sexual em excesso, a internet é uma grande fonte para quem sofre do problema.
- O comportamento compulsivo compromete a vida da pessoa, que se afasta da família, da vida social, sempre em função da busca de sexo, de parceiros ou de elementos de excitação que a internet e os sites pornográficos proporcionam.
No Brasil, ainda não existe um estudo conclusivo para medir a quantidade de pessoas que sofrem de compulsão sexual. Mas, a mesma pesquisa realizada nos Estados Unidos apontou que de 3% a 6% da população total do país sofre com o problema.
A dificuldade do diagnóstico é um das maiores entraves para se fechar esses números aqui no Brasil, diz o pesquisador. Isso porque o problema envolve a exposição de desejos íntimos que geram prazer e culpa ao mesmo tempo.
- Geralmente, as pessoas não procuram tratamento porque, ao passo que a compulsão traz sofrimento, com a perda da família, da vida social e até do emprego, também traz prazer para a vida daquele paciente inquieto, ansioso ou depressivo.
Scanavino explica que a compulsão por sexo não tem o mesmo significado do que o vício na atividade sexual, apesar deste também ser considerado um distúrbio mental que envolve a sexualidade.
- O compulsivo não é aquele que só busca sexo o tempo todo, mas também aquele que "despeja" no sexo a solução de sua ansiedade e até de sua depressão.
Preconceito x exagero
Essa culpa envolve todo o preconceito e tabus relacionados à libido exagerada. Para se ter uma ideia, para cada oito homens que procuram o HC para tratamento, apenas uma mulher aparece – o que mostra que questões culturais estão muito enraizadas no momento de assumir o transtorno e tratá-lo.
No entanto, para o coordenador do estudo, nem sempre o compulsivo é necessariamente um promíscuo. Ele pode apresentar diferentes comportamentos que envolvam a compulsão.
- Temos três situações diferentes para avaliação: aquele que busca incessantemente vários parceiros – muitas vezes, casuais ou anônimos -, aquele que exige demais de um parceiro fixo ou estável e até mesmo o que não busca nenhum parceiro e vive isolado na internet ou vendo filmes, para praticar a masturbação.
Entre os primeiros, o estudo focou ações de prevenção contra DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). E no caso dos demais, o cuidado para evitar um outro problema comum: as pequenas lesões genitais em decorrência do excesso de sexo.
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- Já cuidamos de quadros de depressão e até de suicídio, pois na medida em que o problema vai evoluindo, o paciente perde o controle, se expõe em situações impróprias, como praticar sexo em lugares públicos e privados. E tudo isso pode ser evitado.
Autoestima no pé e vergonha
Apesar da compulsão se manifestar de diferentes maneiras, praticamente todos os pacientes têm problemas de autoestima. Essa é a constatação da educadora Juliana Cambaúva, do Instituto Kaplan, que estuda a sexualidade humana há 20 anos. Ela explica que, ao contrário do que se imagina, os compulsivos têm estima baixíssima e muita vergonha de seu comportamento.
- Tem muito a ver com padrões de comportamento, valores morais e, clinicamente falando, podemos citar uma possível lesão no que chamamos de lobo frontal, que é a parte do cérebro que regula instintos e impulsos.
Essa disfunção se aplica também aos dependentes químicos e os excessivamente consumistas, explica a educadora.
Por isso, controlá-la se torna um desafio, justamente por ter de suprimir o desejo de buscar prazer em momentos inadequados.
- O paciente fica exposto, vulnerável moralmente. A estima tende a ser baixa, há um constrangimento enorme pela falta de controle e um altíssimo nível de frustração.
Como saber se sofro dessa compulsão?
A tendência atual é que o critério diagnóstico não seja quantitativo, mas indicado pela perda de controle. Isto é, perceber se houve comportamento sexual exacerbado muito frequente e repetitivo nos últimos seis meses (sozinho ou buscando parceiros de fato), momentos difíceis da vida onde se buscou o sexo como forma de gratificação – quando se sentiu ansioso ou depressivo, por exemplo.
No entanto, é comum o paciente só perceber isso quando o quadro já está bem mais avançado, e passou a envolver perda de dinheiro ou do convívio com a família, explica Scanavino.
O psiquiatra explica que, quando não tratada, a compulsão - que agora deve ser incluída no código norte-americano de doenças mentais como Transtorno Hiperssexual - traz ainda mais problemas.
- Os indivíduos sofrem prejuízos no desempenho profissional ou nos estudos, prejuízos financeiros e se expõem a doenças sexualmente transmissíveis. É um problema descrito há mais de cem anos. Se o paciente se tratar, se cuidar, todos podem ganhar com isso. Ele e todos ao seu redor.
A compulsão sexual costuma ser tratada com antidepressivos, que tendem a diminuir a libido, e sessões de psicoterapia.
R7
http://www.paraiba.com.br/2011/08/01/77377-compulsao-por-sexo-aumenta-chances-de-trair-o-parceiro
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