Filosofando
O Ponto da Deusa
Por Márcia Yáskara Guelpa
16.06.05
Pode parecer incrível, mas a idéia de a mulher ter prazer sexual foi, durante muitos séculos, inadmissível. Mulher não gostar de sexo, então, era considerado um predicado lisonjeiro, a valorizava, e mais, fazia com que fosse considerada feminina, pois eram vistas como seres humanos cuja principal função deveria ser procriar e serem apenas receptoras passivas da atividade sexual masculina.
Estudos e pesquisas sobre a sexualidade feminina são absolutamente recentes. Faz apenas 55 anos que o médico Ernst Grafenberg descreveu, pela primeira vez, um lugar dentro da vagina que é extremamente sensível à pressão intensa e, em sua homenagem, esse ponto passou a chamar-se Ponto G.
Localizado na parede interior da vagina, atrás do osso púbico, mais ou menos a cinco centímetros da entrada do canal vaginal, o Ponto G é muito importante para quem pratica o sexo tântrico, e é conhecido como o ponto da deusa, dado o papel a ele atribuído de trazer as mulheres ao pico do prazer. Na realidade, o Ponto G possui tamanho e localização variáveis de mulher para mulher. Para saber onde se localiza basta imaginar um pequeno relógio dentro da vagina, com o ponteiro das 12 horas apontado para o umbigo. A maioria das mulheres encontrará o Ponto G situado na região entre 11 e 1 hora. O Ponto G e o clitóris são descritos pelos tântricos como pólos de carga sexual – um dentro e outro fora da vagina.
Cassandra Lorius, em seu livro “Sexo Tântrico”, diz que uma das melhores maneiras de achar o Ponto G é agachar-se e enfiar dois dedos (polegar de uma das mãos e indicador de outra) na vagina, pressionando um para cima em direção ao umbigo e o outro para baixo sobre o osso púbico (parecido com o exame de um ginecologista). É mais fácil achá-lo quando se está excitada sexualmente, pois os tecidos incham e se tornam mais sensíveis. A textura é diferente da de outros músculos que circundam a vagina. É mais áspera, com protuberâncias ou arestas.
Entretanto, existe uma terrível resistência quanto à existência do ponto em questão, em decorrência dos vestígios ainda latentes das antigas idéias de que as mulheres não devem ter desejos ou reagirem como seres sexuais. Há, inclusive, quem afirme não ser ele real, mas apenas um mito, o que nos leva a crer que algumas pessoas tentem, com essa afirmação, restringir o prazer da mulher. Por outro lado, alguns autores atuais afirmam em seus livros que a mulher só pode ter orgasmo com a estimulação do clitóris.
A essa altura você já deve estar querendo localizar o seu Ponto G, não? Então vamos lá! Você vai perceber que ele se apresenta como uma pequena saliência enrugada, do tamanho de um feijão e que, quando estimulado, começa a intumescer-se, parecendo um pequeno caroço entre os dedos. Para algumas mulheres pode crescer até o tamanho de uma moeda.
Massagem yoni
Não fique desapontada se o não encontrar com facilidade. Por ser relativamente pequeno, muitas mulheres encontram dificuldade em localizá-lo sozinhas. Caso seja de sua preferência você poderá localizar o ponto da deusa através de uma massagem chamada yoni, cujo objetivo é o de ver e apreciar a yoni (vagina) da deusa hindu Shakti, que possui energia inata, a energia feminina. Não é algo que se precise construir ou criar, é algo que você precisa ativar tão logo a descubra.
Em “Sexo Tântrico”, Cassandra afirma que Shakti não é, na realidade, somente uma deusa, mas a força criativa por trás da existência, e se manifesta em diferentes formas. Por essa razão, diz ela, não é retratada como uma única deidade, mas como várias deusas que representam as várias qualidades dessa energia primal.
A massagem yoni, cuja finalidade é curar lembranças do passado que nela se armazenam, é fascinante e deve ser praticada por você e sua parceira. Vamos lá! Faça primeiro na sua parceira. Em seguida ela fará em você. Fique atenta para cada movimento e cada toque, pois ambos devem ser delicados e suaves.
Vejamos o que diz Cassandra Lorius sobre a massagem yoni:
* “Sua parceira deve deitar-se confortavelmente, com travesseiros apoiando onde for necessário. Você pode sentar-se a seu lado ou entre as suas pernas abertas, também apoiadas por travesseiros. Olhe para ela, sincronize a sua respiração com a dela, criando uma conexão amorosa. Ponha sua mão esquerda delicadamente sobre o coração dela, enquanto sua mão direita (se você for destra) descansa sobre a pelve, no chacra umbilical”.
* “Depois de alguns minutos, faça massagem no corpo dela, com óleo ou talco. Afaste a energia da região da pelve, levando-a para o ventre e descendo pelos braços, coxas e pernas”.
* “Massageie em volta da pelve, dos músculos acima do púbis, da virilha (na prega onde as coxas se encontram com a região púbica) e no topo das coxas – lugares onde a tensão pode se concentrar. Controle com ela o ritmo e a pressão dos movimentos da massagem”.
* “Antes de proceder à massagem da yoni, ponha a mão em concha sobre o púbis e os lábios vaginais de sua parceira, mantendo a outra no centro do coração, restabelecendo a conexão com os olhos”.
* “Depois de acariciar suavemente a região do púbis, derrame uma pequena quantidade de lubrificante sobre os lábios externos da yoni, e massageie suavemente esta parte. Faça isso por algum tempo, sem pressa. Olhe para a yoni da parceira, admire-a e diga o que vê”.
* “Aperte delicadamente o lábio externo com os dedos, e deslize-os por toda a sua extensão, para cima e para baixo. Faça a mesma coisa com os lábios internos (vulva). Aperte então todos os lábios nas mãos como um sanduíche de yoni. Pergunte à parceira se ela está gostando do ritmo e da pressão de seu toque”.
* “Acaricie o clitóris, fazendo pequenos círculos e comprimindo-o. Diga à parceira para relaxar, sentir as sensações eróticas proporcionadas sem se concentrar muito nelas. Você pode dispersar a energia afastando-a da região da pelve com a mão que está livre, ou aumentá-la com um duplo estímulo – acariciando um mamilo, por exemplo”.
* “Quando a parceira estiver pronta, ela vai lhe convidar a colocar o dedo médio da mão direita dentro da vagina. Explore o interior dela em todas as direções, fazendo uma massagem. O resto de sua mão pode descansar sobre o púbis ou massageá-lo. Varie a profundidade, velocidade e pressão de seus dados. Há três tipos principais de movimentos: pequenos círculos, vibrando onde parecer dormente, ou simplesmente segurando, sobretudo se a parceira parecer angustiada (neste caso é melhor a mão ficar parada, sem retirar o dedo)”.
* “Com a palma da mão para cima e o dedo médio dentro da yoni, mexa o dedo num gesto de “vem cá” ou dobre-o em direção à palma. Você vai entrar em contato com uma região de tecido esponjoso abaixo do osso púbico, atrás do clitóris. É chamada de Ponto G ou, para o Tantra, ponto sagrado. Sua parceira pode ter a sensação de querer urinar, ou experimentar dor ou prazer. Se for incômodo para a parceira, pare de mover os dedos ou tente variar a pressão, velocidade e padrão de movimentos. Você pode fazer movimentos para o lado, para a frente e para trás ou em círculos com o dedo médio”.
* “Mantenha a respiração e continue a olhar em seus olhos. Emoções fortes podem vir à tona, e ela pode querer chorar ou dividir com você o que está por vir. Continue respirando e seja delicada. Não entre em pânico. Continue a massagem até que ela lhe diga para parar. Remova então as suas mãos lentamente, com delicadeza e respeito. Deixe-a ali por um momento, deleitando-se com o resultado da massagem da yoni. Ou abrace-a com ternura”.
Orgasmos, ejaculação e resistência médica
O Ponto G adequadamente estimulado por pressão intensa, intumesce, aumenta de tamanho e pode provocar vários orgasmos consecutivos, com ou sem ejaculação. O resultado é um orgasmo vaginal bem diferente do orgasmo alcançado pela excitação do clitóris. Aliás, é cada vez maior o número de mulheres que experimentam o orgasmo a partir de sua estimulação.
Segundo o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, o Ponto G só existe para 1/3 das mulheres. Para os outros 2/3 ele não é a área mais sensível, mas, como a cultura diz que é, fica todo mundo correndo atrás.
Conhecido desde a antiguidade, o Ponto G foi descrito, no século XVII pelo anatomista holandês Regnier de Graaf como uma mucosa membranosa da uretra. Assim, podemos considerá-lo um homólogo da próstata masculina e entender por que o líquido que algumas mulheres expelem no momento do orgasmo é similar, quimicamente falando, ao sêmen masculino, sem conter espermatozóides. Essa expulsão, aliás, é conhecida como ejaculação feminina e muitos médicos a contestam. Contudo há comprovações de que a uretra pode expelir vários centímetros cúbicos de um líquido leitoso cuja composição se aproxima consideravelmente do fluido prostático.
Ponto U – Alguém conhece?
O Ponto G é, ainda, pouco conhecido e a respeito dele pouco se comenta. Isso talvez se deva ao fato da pouca importância dada à sexualidade feminina, e porque em um exame ginecológico normal a área do Ponto G é geralmente apalpada e não estimulada. Portanto, ele passa despercebido, pois em estado de repouso ele é praticamente imperceptível e de difícil localização.
A verdade é que mulheres que buscam sensações prazerosas poderão descobrir um ABC completo de pontos interessantes. Basta se tocarem mais. Entretanto, convém ressaltar que tais pontos não são fórmulas mágicas e nem todos os fisiologistas e anatomistas reconhecem com exatidão as estruturas vinculadas a esses pontos, a ponto de poderem confirmar seu papel na sensibilidade sexual.
Fala-se, atualmente, no Ponto U, descoberto pelo cientista norte-americano, Dr. Mckenna. Segundo ele, esse ponto é a chave do orgasmo feminino. Ele fica na entrada da uretra feminina e daí a escolha da letra U para batizá-lo. De acordo com essa teoria, baseada em experiências com ratos, cuja anatomia sexual é parecida com a do homem, a estimulação manual desse ponto desencadearia o aumento da serotonina – substância reguladora do nosso humor – produzida pelas células da uretra. E essa estimulação levaria rapidamente ao orgasmo. Entretanto, sua manipulação merece especial atenção, pois se trata de uma área extremamente sensível e deve ser tocada de leve e com mãos limpas. Irritação e sujeira podem provocar infecções no local e na bexiga.
http://gonline.uol.com.br/site/arquivos/estatico/gnews/gnews_filosofando_15.htm
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