domingo, 7 de agosto de 2011

ESPEREI O CASAMENTO

ESPEREI O CASAMENTO
Confissões de mulheres que só fizeram sexo depois de trocar as alianças.Por Mariana Galante
Fonte: Revista Bárbara/ed.1

"Eu achava que sabia tudo sobre sexo pelo que ouvia falar e via em livros e que estava preparada para casar, ter e dar prazer. Mas na lua-de-mel tomei um baita susto quando vi o pênis do meu marido ereto, ao vivo e a cores, aquela
coisa grande, e só me lembro de querer fugir!” Ok, não há como não ver graça numa situação,
digamos... “dramática”, como essa. Soa antiquado, fora de moda, de outro planeta, ainda mais quando estamos acostumadas a topar com garotas de 14 anos
gravidíssimas por aí. Mas cá entre nós: só mesmo quem passa o aperto – da educação que teve, das escolhas que fez, da imposição que recebeu – para saber o quanto é
difícil dançar conforme a música (dos outros).

Vanessa Martins, a autora do depoimento acima, é sócia de uma rede de farmácias na cidade de União da Vitória, no Paraná, e hoje tem 40 anos. Casou-se virgem aos 19 com um homem seis anos mais velho depois de
um ano de namoro e um ano de noivado. Vanessa tomou essa decisão por medo de desagradar à família: a cidade era pequena, todos se conheciam e as meninas ditas “de família” deveriam se casar cedo e virgens para evitar os comentários maldosos. “Hoje, se tivesse uma filha mulher, jamais exigiria que ela se casasse aos 19 anos, e virgem”.

Para ela, o fato de morar em uma cidade pequena foi decisivo e acredita que, se tivesse crescido em uma capital, com mais opções, liberdade e independência, teria feito o exato oposto do que fez. “Se pudesse voltar no
tempo, eu teria feito muito sexo e com muitos namorados antes de casar. Que devassa eu seria!”.

Desejos não realizados
A psicóloga mineira Luciana Bichuetti acredita que, quando a mulher é obrigada a adotar comportamentos que não estão de acordo com seus desejos, aspirações e necessidades internas, perde a oportunidade de
experimentar de forma plena suas vivências. “Nosso amadurecimento emocional é fruto das experiências pelas quais passamos do nascimento até a morte. Se a pessoa não pode escolher o caminho a seguir e apenas adaptase ao que lhe é imposto pela família ou sociedade, podem surgir sentimentos de inadequação ou difi culdades para lidar com as próprias emoções”, diz a psicóloga.

A noite de núpcias de Vanessa, além de assustadora, foi frustrante. “Levei dois dias para conseguir deixar o meu marido me penetrar porque eu me contraía e tudo doía muito. Sofri um bocado para perder a virgindade por medo e desconhecimento do meu próprio corpo. Pensava: ‘Eu casei, agora tenho que ficar na minha e aguentar’. Para minha sorte, meu marido era mais experiente, muito calmo e carinhoso. Ah, mas nem pensar no tal de orgasmo, isso levou muitos anos para acontecer...”

Não há regras: seria irresponsável afi rmar que há sempre as mesmas vantagens e desvantagens nesta escolha, afinal, o que funciona para uma pode não funcionar para outra. “Um dos fatores mais importantes no
êxito conjugal é o senso de compromisso de ambos diante da nova vida que assumem juntos. O sucesso da união vai depender da sua forma de comunicação, sua capacidade de tomar decisões juntos e lidar com os conflitos que certamente surgirão”, afirma Bichuetti.

Uma questão de escolha
Ao contrário de Vanessa, Patrícia Gaspar não se arrepende de ter se casado virgem. A união da publicitária de 30 anos aconteceu em 2006 com um homem também sem experiência. Ela já havia tido outros namorados, mas
combinou com seu noivo de esperarem para descobrir o sexo juntos. “Me mantive virgem durante 27 anos por pura opção. Via amigas serem enganadas, usadas e abandonadas por namorados que se diziam apaixonados no início e que depois de um tempo simplesmente alegavam que a relação tinha perdido a graça. Outras ficaram grávidas e apagaram muitos planos para poder criar os filhos. Eu não queria isso para mim”.

Para Patrícia, não fazer sexo antes do casamento é esquivar-se de uma possível decepção. “Não que casar virgem seja garantia de que tudo será perfeito na relação, mas tudo na vida tem seu tempo e adiantar as coisas é
um belo jeito de fazer com que elas deem errado”. Oswaldo Rodrigues Jr, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, não aponta transformações evidentes imediatas nessa passagem da vida sem relações para um
comportamento sexualmente ativo, mas destaca que “em cada grupo cultural, os fatores emocionais precisam ser considerados, pois uma menina pode ter se desenvolvido compreendendo que, quando deixasse de ser virgem, seria um momento de assumir responsabilidades. As consequências ou reações emocionais dependem de idade, de grupo social e cultural”.

Patrícia, que sempre conversou abertamente sobre isso com o marido, sabe que eles são diferentes para os padrões atuais da nossa cultura. “Hoje, percebemos juntos o quanto somos diferentes dos jovens da nossa geração e ele, como homem, certamente tem mais dificuldade em falar sobre o assunto com amigos, até porque um rapaz que aos 23 anos ainda era virgem é motivo de piada. Eu nunca tive esse problema: conversava com amigas mais próximas da faculdade, elas achavam o máximo e até davam dicas para a lua-de-mel. Porém, sabemos que o mundo em que vivemos vende sexo 24 horas por dia e que resistir é quase impossível”.


O preço de acreditar
A representante comercial Márcia Costa, 40 anos, e a modista Neiva Manvailer, de 45, compartilham da mesma opinião de Patrícia: não se arrependem. Moradora de Penápolis, interior de São Paulo, e filha de pastor, Neiva nunca recebeu nenhuma instrução direta de seus pais nesse sentido, mas se casou virgem por acreditar que ajudaria a ter um casamento longo. “Não me casar virgem me traria um grande conflito interno entre aquilo que aceitei como certo e o que eu estaria fazendo ao contrário. Não sei se meu marido me amaria”.


Dr. Oswaldo vai no X da questão: “Uma menina ou adolescente que pretende casar-se virgem não sabe o que está fazendo, nem as consequências de seu ato, pois não tem como ponderar. Seu cérebro
ainda está amadurecendo... Para muitos adultos, este amadurecimento nem chega a se realizar. Para isso existem as regras externas, a moral, a ética. Quem desenvolveu regras internas coerentes com o mundo externo tem um cérebro maduro, capaz de administrar situações a partir de necessidades pessoais e em acordo com o mundo externo. Os que não têm esta condição
precisam do mundo externo para lhes guiar”.

Quando tinha 21 anos, Márcia queria que sua mãe se orgulhasse dela e tinha o sonho de poder entregar a alguém especial aquilo que considerava o seu maior tesouro. Também queria conquistar o respeito do marido. “Se a mulher se mantém virgem, ganha a admiração do parceiro, porque ele sabe que não é uma qualquer. Não que as mulheres que não se casam virgens não mereçam esse respeito, mas para o homem é preocupante saber
que a mulher já saiu com vários”.

A psicóloga Luciana Bichuetti explica esse culto à virgindade feminina: “A sexualidade da mulher muitas vezes foi considerada como sagrada e valiosa por causa de sua associação com a maternidade. Desde o início da civilização, os homens cultuaram a mulher por essa possibilidade de gerar uma nova vida”.

Historicamente, o homem saber que uma criança é realmente sua é determinação de poder. Controlar a sexualidade da mulher permite reconhecer a paternidade. Segundo o diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, “uma mulher sempre sabe que ela é a mãe. Um homem somente saberá se tiver sob controle os comportamentos sexuais da mulher e esta é a razão histórica de considerar a sexualidade da mulher tão valiosa”.

Com a técnica de enfermagem Cristiane de Mendonça, paulistana de 44 anos, a história não foi nada agradável. “Me casei virgem aos 17 anos e hoje eu faria tudo diferente. Tive uma educação muito rígida, tinha que
namorar em casa e com a família do lado. Caí na ilusão
de que me casar cedo seria uma solução. Não desejo isso para meus filhos de jeito nenhum! É fundamental conhecer bem a pessoa com quem se vai casar”.

Cristiane lamenta não ter convivido mais tempo com o marido antes de juntar as escovas. Entre namoro e noivado foram dois anos, mas era o pai dela quem ditava as regras. “Depois de casada, já com três filhos, é
que eu fui saber que naquela época ele namorava uma outra menina ao mesmo tempo e que tentou transar comigo antes do casamento só para me testar. Fiquei tão decepcionada que só mantive o relacionamento por causa
das crianças, mas essa já é uma outra história”.

Perder a virgindade depois do casamento pode significar ter de lidar com muitas coisas novas de uma única vez sem estar preparada para tanto. Porém, há quem tenha encontrado equilíbrio e satisfação pessoal na exclusividade de parceiro. Se há uma certeza resoluta em tudo na vida é: a unanimidade não existe. Para a psicóloga, “somente vivendo os acontecimentos pertinentes a cada fase de sua vida, uma pessoa poderá
sentir-se real, plena e aprender com as experiências, integrando-as no seu processo de desenvolvimento”.
http://itodas.uol.com.br/amor-e-sexo/esperei-o-casamento-6884.html

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